18.5 C
Brasília
05 dez 2025 03:38

Presa na Itália, Zambelli confronta hacker e nega acusações em audiência da CCJ

Presa na Italia, após empreender fuga do Brasil, deputada com condenação transitado em julgado pelo STF, nega acusações e tenta imputar crimes, exclusivamente ao parceiro, Walter Delgatti, esse, preso em SP. PF apurou pagamentos e encontros da parlamentar com hacker antes de invasão de sistema do Conselho Nacional de Justiça

Por Kleber Karpov

Em uma sessão marcada por acusações e negações, a presidiária, deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), presa na Itália para onde fugiu antes de condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF), confrontou virtualmente o hacker Walter Delgatti Neto, na quarta-feira (10/Set), em audiência da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados. O colegiado analisa o processo de cassação do mandato da parlamentar, pós-condenação do STF, a dez anos de prisão por ser a mandante da invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O depoimento de Delgatti, que também participou da sessão por meio de videoconferência de uma prisão em São Paulo, foi o ponto central da reunião. O hacker reafirmou que Zambelli o contratou para invadir o sistema do CNJ com o objetivo de desacreditar a segurança do Poder Judiciário e, consequentemente, do sistema eleitoral brasileiro.

“Ela [Zambelli] me disse assim: – ‘Se você for pego ou processado, pode falar que quem mandou fui eu. Você pode falar, que eu assumo isso’”, declarou o hacker. Segundo Delgatti, a parlamentar também solicitou a inserção de um mandado de prisão falso contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Zambelli, por sua vez, negou veementemente as acusações e classificou Delgatti como um “mitomaníaco” com compulsão por mentir. “O senhor me fez corresponsável. Eu respondo por 16 mandados: um mandado de prisão do Alexandre de Moraes e por mais 15 mandados de soltura de criminosos do PCC, do Comando Vermelho, de traficantes de drogas, de assassinos e de estupradores. É por isso que fui condenada a dez anos de prisão”, afirmou a deputada.

Sistema eleitoral

Hacker Walter Delgatti ratifica versão que levou à condenação de ambos pelo STF – Foto: Vinicius Loures/Agência Câmara

Durante a sessão na Câmara Delgatti afirmou conhecer Carla Zambelli desde 2022, ocasiçao em que a deputada o contratou com intuito de comprovar que o sistema do CNJ era violável e, consequentemente, no entender da parlamentar, desacreditar a segurança do sistema de justiça e eleitoral no Brasil.

“Ela [Zambelli] me disse assim: ‘Se você for pego ou processado, pode falar que quem mandou fui eu. Você pode falar, que eu assumo isso’”, declarou Delgatti. “Assim que eu consegui invadir o CNJ, ela pediu que eu fizesse um despacho e uma ordem de prisão do ministro Alexandre de Moraes.”, disse Delgatti ao afirmar ter recebido suporte financeiro e promessa de emprego.

Carla Zambelli por sua vez, disse que Delgatti é mitomaníaco, com compulsão por mentir e que alterou a versão dos fatos diversas vezes. A parlamentar reclamou, por exemplo, da condenação em razão de mandados de soltura de membros de organizações criminosas, inseridos no sistema pelo hacker. A inserção, segundo Delgatti, teria sido feita por um robô.

“O senhor me fez corresponsável. Eu respondo por 16 mandados: um mandado de prisão do Alexandre de Moraes e por mais 15 mandados de soltura de criminosos do PCC, do Comando Vermelho, de traficantes de drogas, de assassinos e de estupradores. É por isso que fui condenada a dez anos de prisão”, reclamou Zambelli.

Defesa na CCJ

Durante a audiência na CCJ, a defesa de Zambelli e aliados buscaram desacreditar o depoimento de Delgatti, sob apontamento de supostas contradições nas declarações do hacker. O assistente técnico da defesa, Michel Spiero, afirmou que não foram encontrados nos dispositivos da deputada nenhum texto ou mensagem que comprovasse a autoria intelectual da ordem de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.

O líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), defendeu a correligionária, afirmando que “uma mulher não pode ser cassada por uma pessoa desqualificada que se contradiz em tudo o que fala”. Ele prometeu lutar pela manutenção do mandato de Zambelli.

Por outro lado, a deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS) criticou a condução da sessão, classificando-a como uma “tentativa de abuso de prerrogativa de Carla Zambelli para buscar a impunidade” e uma “lavação de roupa suja” para justificar a não cassação.

Julgamento da condenação do STF?

Estranhamente, mesmo com a decisão transitado em julgado, pelo STF e com Zambelli presa na Itália após fuga do Brasil, apoiadores da parlamentar atuam para tentar imputar ao hacker a responsabilidade por crime amplamente investigado pela Policia Federal, como forma de librar a parlamentar da cassação do mandato.

Importante ressalvar que a investigação da Polícia Federal (PF), no âmbito da Operação 3FA, foi o pilar que sustentou a denúncia contra a parlamentar. Longe de se basear apenas nas palavras de Delgatti, os investigadores reuniram um conjunto de provas materiais que, segundo a acusação, corroboram a versão do hacker. Acervo esse que passou pelo crivo da Procuradoria-Geral da República (PGR), e dos magistrados da Primeira Turma do STF, responsáveis por julgar a Ação Penal (AP) 2428.

Vale lembrar que dentre as provas, a apuração confirmou transferências financeiras que totalizaram R$ 13,5 mil, realizadas por um assessor de Zambelli para a esposa de Delgatti. Para a defesa da parlamentar presidiária, meros pagamentos a serviços de manutenção e melhorias do site oficial da deputada, e não à atividades ilícitas.

Além de rastreamento, pela PF, de deslocamentos de ambos e confirmação de encontros entre Zambelli e Delgatti, inclusive um desses, nas proximidades de um hotel onde o hacker estava hospedado em Brasília, dias antes da inserção do falso mandado de prisão no sistema do CNJ, em 4 de janeiro de 2023.

Acervo de provas apresentados pela PGR, consideradas contundentes por parte de ministros do STF por demonstrar, sem margem para dúvida razoável, a autoria intelectual e o financiamento dos crimes por parte de Carla Zambelli. Os ministros destacaram a gravidade dos atos, que atentaram contra as instituições democráticas e o Estado de Direito. A condenação, portanto, não se baseou apenas no testemunho do hacker, mas em um conjunto coeso de provas materiais e circunstanciais.

O caminho de Zambelli até a prisão

A condenação de Carla Zambelli pelo STF, por unânime, incluiu a perda do mandato parlamentar. A decisão transitou em julgado, o que significa que não cabem mais recursos. Pouco antes da conclusão do julgamento, a deputada deixou o Brasil e, após passar pela Argentina e Estados Unidos, chegou à Itália, país do qual também possui cidadania.

Considerada foragida pela Justiça brasileira, Carla Zambelli foi incluída na lista de procurados da Interpol. A parlamentar acabou por ser localizada em Roma e acabou por ser denunciada  às autoridades italianas pelo deputado local Angelo Bonelli. Presa em julho, a deputada aguarda o processo decisão do judiciário italiano sobre eventual extradição para o Brasil, uma vez que a presidiária mantém dupla cidadania.

Próximos passos

Em tramitação na CCJ, posteriormente, o processo de Carla Zambelli , deve ser analisado pelo Plenário da Câmara dos Deputados que deve, ou não, endossar a cassação do mandato determinado pelo STF. A expectativa é que o relatório seja votado na comissão em novembro. Enquanto isso, a deputada federal, presidiária, acompanha o desenrolar do processo que definirá seu futuro político de uma prisão na Itália.




Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894 Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Primeira Turma do STF forma maioria para condenar cúpula da PMDF

Por Kleber Karpov A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal...

Flávio Dino veta repasse de emendas a Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem

Por Kleber Karpov O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal...

Parque do Cortado recebe 15 mil mudas do Cerrado no Dia de Plantar

Por Kleber Karpov O Governo do Distrito Federal (GDF) promove,...

IPVA terá reajuste médio de 1,72% e IPTU sobe 5,1% em 2026

Por Kleber Karpov A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF)...

GDF institui plano de emergência para enfrentar poluição crítica do ar

Por Kleber Karpov O Governo do Distrito Federal (GDF) oficializou,...

Motoristas de aplicativo DO DF devem instalar QR Code até 17 de dezembro

Por Kleber Karpov Os motoristas de transporte por aplicativo do...

HRSM inaugura tomógrafo de última geração para agilizar diagnósticos

Por Kleber Karpov O Hospital Regional de Santa Maria (HRSM)...

Destaques

Primeira Turma do STF forma maioria para condenar cúpula da PMDF

Por Kleber Karpov A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal...

Flávio Dino veta repasse de emendas a Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem

Por Kleber Karpov O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal...

Parque do Cortado recebe 15 mil mudas do Cerrado no Dia de Plantar

Por Kleber Karpov O Governo do Distrito Federal (GDF) promove,...

IPVA terá reajuste médio de 1,72% e IPTU sobe 5,1% em 2026

Por Kleber Karpov A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF)...

GDF institui plano de emergência para enfrentar poluição crítica do ar

Por Kleber Karpov O Governo do Distrito Federal (GDF) oficializou,...