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07 dez 2025 06:20

Últimos corpos de vítimas de operação no Rio de Janeiro são liberados; famílias denunciam execuções

Alta letalidade da ação nos complexos da Penha e do Alemão gera denúncias de execuções ilegais

Por Kleber Karpov

As últimas famílias das vítimas da Operação Contenção, conduzida pelo governo do Estado do Rio de Janeiro nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte, concluíram a liberação dos corpos no Instituto Médico Legal (IML), no centro da cidade, até ontem (31/Mai), após a operação no início da semana. A ação gerou denúncias de execuções ilegais por parte dos familiares, que relatam alívio pelo fim da busca e indignação pela letalidade, enquanto o governo estadual defendeu a ofensiva como combate ao crime organizado.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou, até a sexta-feira, dia 31 de maio, que restavam apenas oito corpos para serem identificados e liberados pelo IML. Os parentes das pessoas mortas relataram, simultaneamente, o alívio pelo encerramento da peregrinação por informações e a profunda indignação com a tragédia ocorrida.

Karine Beatriz, de 26 anos e grávida, esteve no IML para realizar o reconhecimento do corpo do esposo, Wagner Nunes Santana, que é o pai do seu bebê. Ela contou que a localização do corpo foi alcançada somente após três dias de procura na mata da Serra da Misericórdia, na Penha.

Execuções ilegais

O corpo de Wagner Nunes Santana foi retirado de dentro de um lago com um tiro na testa, segundo a informação prestada pela esposa. As circunstâncias do assassinato não foram detalhadas pela polícia. Karine Beatriz afirmou ter participado das buscas desde os primeiros dias da operação. Ela relatou a indignação com a alta letalidade, questionando as ações:

“Após três dias de buscas consegui localizar o corpo, mas alívio eu só vou ter com repostas para as perguntar que não vão calar: ‘de onde vem pena de morte, se existe presídio, presídio é apenas enfeite? Até quando vai isso?’. Temos crianças assustadas, uma comunidade abalada, é muita dor,” questionou Karine Beatriz, sobre a alta letalidade das operações no Rio, nos últimos anos.

Karine Beatriz reiterou que, apesar de eventuais desvios do esposo, ele cumpria o papel de trabalhador e pai de família, responsável pelo sustento da casa e por cuidados domésticos. “Independente dos erros dele, ele era trabalhador, era família, semana passada, estava ajudando a erguer uma casa na comunidade, ajudou a fazer o ‘cabelo maluco’ da minha filha. Tenho uma filha de nove anos, que não era filha dele e ele fez o cabelo dela para escola, levou para brincar, sabe, são momentos que não vão voltar”.

Ao relatar a situação encontrada, a viúva reforçou a denúncia contra a maneira como a operação foi conduzida. “Eles não vieram prender ninguém, eles foram para matar. É até mesmo quem se entregou, eles mataram. Eu procurei, desde o primeiro dia, eu procurei um por um. Não sei o que fizeram, mas enterro vai ter de ser caixão fechado”, relatou Karine, sobre a denúncia de execuções.

Justificativa e defesa da operação

O balanço mais recente da Operação Contenção, divulgado na sexta-feira, dia 31 de maio, indicou que noventa e nove pessoas tinham sido identificadas pelo Instituto Médico Legal. Desse total de corpos, quarenta e duas vítimas possuíam mandados de prisão pendentes, e setenta e oito apresentavam envolvimento com o crime, conforme o balanço.

Ainda segundo a informação oficial, treze dos mortos eram oriundos de outros estados, com menção específica a Pará, Bahia, Amazonas, Ceará, Paraíba e Espírito Santo. O governo do Estado do Rio de Janeiro justificou a operação como uma forma de conter a expansão da facção criminosa Comando Vermelho (CV), mesmo sem conseguir cumprir os mandados contra os principais chefes do grupo.

Segundo a nota oficial encaminhada à imprensa, as investigações apuradas indicavam que integrantes do grupo criminoso recebiam treinamento de táticas de combate, além de instruções em armamento, tiro e uso de explosivos nas localidades que foram visadas.

As investigações também revelaram que o fluxo de caixa da facção nessas áreas movimentava cerca de dez toneladas de drogas por mês. As comunidades do Alemão e da Penha serviam como polos de abastecimento, distribuindo armas e entorpecentes para outras comunidades que são controladas pelo grupo criminoso.

O governador Cláudio Castro defendeu a execução da Operação Contenção, apesar da alta letalidade e dos questionamentos a respeito da eficácia da ação para prender as lideranças do crime organizado, o que paralisou a cidade na terça-feira.

“Tendo em vista estes resultados, a gente vê que o trabalho de investigação e inteligência foi adequado, todos perigosos e com ficha criminal. Também, pela identificação das origens desses ‘narcoterroristas’, reforço a importância da integração com os estados. Em breve, vamos entregar os relatórios completos para as autoridades competentes”, disse Castro, em nota, sobre a defesa da ação.




Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894 Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

 

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