Representante do Tesouro dos EUA cancela reunião com Haddad. Ações como essas reforçam cerco contra Eduardo Bolsonaro

Atuação do deputado federal, residente nos Estados Unidos, para sabotar deliberadamente acordos comerciais do Brasil com governo norte-americano resulta em pedidos de apurações por AGU, PGR e TCU. Além de arrocho pelo presidente da Câmara, Hugo Motta

Por Kleber Karpov

O cancelamento de uma reunião bilateral entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, é o mais recente desdobramento da ofensiva do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra os interesses econômicos do Brasil.

A reunião desmarcada entre Haddad e Bessent tem como pauta as sobretaxas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Algo que o ministro Haddad classificou como uma articulação da “extrema-direita brasileira” junto a assessores do governo norte-americano. “Agiram junto a alguns assessores do presidente Trump, e a reunião com ele, que seria virtual na quarta-feira, foi desmarcada e não foi remarcada até agora”, afirmou o ministro da Fazenda.

Sabotagem explícita

Embora Haddad não tenha citado nomes, a referência do ministro faz alusão a Eduardo Bolsonaro, atualmente com residência fixa nos EUA, a utilizar as redes sociais, constantemente, para ratificar a atuação para barrar eventuais os acordos comerciais do próprio país.

“Enquanto eu estiver aqui nos Estados Unidos, eu vou fazer de tudo para que qualquer tipo de acordo, seja ele qual for, com o governo dos Estados Unidos, não avance”, declarou o parlamentar em entrevista à imprensa brasileira.

Tática de sabotagem essa, vista por analistas como tentativa de criar uma crise econômica e instabilidade política no país, além da tentativa de angariar apoio a anistia ao pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, por parte do Supremo Tribunal Federal (STF). O Progenitor está a ser julgado por ao menos cinco crimes, dentre esses, a tentativa de golpe de Estado e atentado violento contra o Estado Democrático de Direito.

Ofensiva jurídica

Se por um lado, o governo brasileiro sofre sanções políticas por parte de Trump, embora com interesses geopolíticos, mas atribuídos a forma com que Bolsonaro, pai está a ser tratado, o filho, ao avocar tais sanções a pedidos próprios, se une ao pai em prováveis condenações jurídicas.

As posições e investidas de Eduardo Bolsonaro, desde que se licenciou do cargo como deputado, em março desse ano, para ir morar nos EUA, resultou em pedidos de investigação contra o parlamentar no Brasil. Dentre esses, por parte da Advocacia-Geral da União (AGU), por intermédio da Procuradoria-Geral da República (PGR), e da Polícia Federal (PF). Demandas essas que chegaram a resultar, em 23 de maio, a instauração de inquérito por parte do STF, por coação e tentativa de obstrução de Justiça.

“A busca por sanções internacionais a membros do Poder Judiciário visa interferir sobre o andamento regular dos procedimentos de ordem criminal, inclusive ação penal em curso contra o sr. Jair Bolsonaro“, ponderou o Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, à época.

Vale lembrar que por determinação do STF, o parlamentar, embora permaneça na condição de parlamentar, está com as contas e verbas bloqueadas. Tanto pessoais, quanto do gabinete e da esposa.

Contas suspeitas

Para além dos bloqueios impostos por parte do STF, o deputado também entrou na mira do Tribunal de Contas da União (TCU). A Corte de Contas recomendou à Câmara dos Deputados a investigação do uso de recursos públicos para custear a estadia do parlamentar em solo americano.

O TCU indica ter encontrado indícios de irregularidades, a exemplo de ao menos quatro faltas não justificadas em sessões plenárias antes da licença, sem o correspondente desconto na remuneração de R$ 46 mil, paga com dinheiro público.

Corda no pescoço

Na segunda-feira (11/Ago), o presidente da Câmara dos Deputados, o deputado federal, Hugo Mota (Republicanos-PT), foi categórico em condenar as atitudes de Eduardo Bolsonaro. “Eu não posso concordar com a atitude de um parlamentar que está fora do país, trabalhando, às vezes, por medidas que prejudiquem o seu país de origem e que tragam danos à economia do país. Isso não pode ser admitido.”, disse em entrevista à Veja.

Mota foi além ao informar sobre a ausência de amparo legal, por parte do parlamento, para o parlamentar exercer o mandato a distância. “Com relação às questões inerentes ao seu mandato, nós iremos tratar o deputado Eduardo Bolsonaro como trataremos todo e qualquer parlamentar. Para essa presidência, não existe um parlamentar que é mais deputado do que outro. Dentro daquilo que rege o nosso Conselho de Ética, é como trataremos o deputado Eduardo Bolsonaro, sem ter a ele dado nenhum privilégio e também nenhum prejuízo pelo fato de ele estar aí tendo esse comportamento.”.

Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894 Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.