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27 abr 2024 17:22


Especialistas apontam que mulheres negras têm menos oportunidades de tratar câncer do que brancas

Pesquisa mostra que, das mulheres que realizam a mamografia, só 24% são negras; mas 47% das pacientes com câncer avançado são negras

Por Emanuelle Brasil

Especialistas que participaram nesta quarta-feira (25) do seminário “Inovação, educação e cuidado com as mulheres no Outubro Rosa” concluíram que a questão racial é uma variável importante no acesso ao tratamento do câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS).

O evento foi organizado pela Secretaria da Mulher e pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, como parte da Campanha Outubro Rosa.

Segundo pesquisa do Instituto Avon, entre as mulheres que realizam mamografia, só 24% são negras, mas 47% das pacientes que recebem o diagnóstico de câncer em estágio avançado são negras.

“As mulheres negras têm menos acesso aos exames de rastreamento que permitiriam um diagnóstico precoce, e portanto têm um estágio mais avançado no diagnóstico. Isso acaba se traduzindo, infelizmente, em uma letalidade maior”, alertou a diretora do instituto, Daniela Grelin.

Apesar da premissa de acesso universal ao SUS, segundo a integrante da Comissão Intersetorial de Saúde da Mulher do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Damiana Bernardo de Oliveira, critérios como faixa de renda e raça segregam as mulheres na realização de exames preventivos, bem como no acompanhamento da evolução da doença. “Existe um fator na saúde que se chama racismo institucional e isso precisa ser enfrentado”, disse.

Ela, que é epidemiologista, frisou que as mulheres mais diagnosticadas com câncer são brancas, mas as que mais morrem da doença as negras.

De acordo com levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2021, mais de 18 mil pessoas morreram de câncer de mama no Brasil.

Renilce (C) citou exemplo de atendimento a mulheres ribeirinhas no Pará – Foto: Carolina Souza / Agência Câmara

Câncer nas Favelas

A presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz, de Camargo Barros, citou pesquisa realizada em favelas de todo o País em 2023, a qual demonstrou que os pacientes não têm acesso ao tratamento oncológico em razão da falta de creches e dos custos de locomoção para hospitais e de alimentação longe de casa.

Segundo esses dados, 44% das pessoas concordam que, se tivessem com quem deixar os filhos, poderiam cuidar melhor da saúde. “Para esses grupos mais vulneráveis que estão enfrentando inúmeras dificuldades do ponto de vista social, econômico, até cultural, a gente tem de fazer mais e diferente”, reforçou Holtz.

Nessa mesma linha, falou a consultora da saúde da mulher da Organização Panamericana de Saúde (Opas), Gabriela Giacomini. “Por mais que a gente tenha uma política de saúde muito bem azeitada no que diz respeito ao diagnóstico, à prevenção e ao rastreio, a mulher muitas vezes não tem condições para ir até a unidade básica de saúde (UBS)”.

Mulheres ribeirinhas

A deputada Renilce Nicodemos (MDB-PA) citou o trabalho do Instituto Ercilia Nicodemos, que dispõe de quatro carretas para atender mulheres nas áreas ribeirinhas e rurais paraenses com a oferta de exames ginecológicos, além da mamografia. “Ainda há muito o que se fazer, mas estamos comprometidos com a luta contra o câncer”, disse a parlamentar.

Ela citou dados do Ministério da Saúde, pelos quais 20% das mulheres com idade entre 58 e 69 anos nunca realizaram mamografia. Das mulheres que realizam esse exame, 55% são diagnosticadas em estágios avançados da doença.

Recursos

A secretária nacional de Aquicultura, deputada licenciada Tereza Nelma, que atualmente trata um câncer em estágio de metástase, concordou que é preciso ampliar os cuidados de saúde da mulher. No entanto, reforçou que não faltam recursos, e sim fiscalização.

“Em 2019 e 2020, o Ministério da Saúde conseguiu R$ 150 milhões que foram distribuídos pelo Brasil para prevenção e diagnóstico do câncer de mama e do câncer de útero”, disse.

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