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26 abr 2024 23:17


Deputados comentam nota conciliadora de Bolsonaro após protesto de caminhoneiros

Para a oposição, a nota não diminui a responsabilidade de Bolsonaro nas pautas antidemocráticas; já aliados e moderados comemoraram a busca de harmonia entre os Poderes

Por Carol Siqueira

A divulgação de uma nota oficial em tom conciliador pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, foi alvo de discursos no Plenário da Câmara dos Deputados durante a votação do Código Eleitoral nesta quinta-feira (9). No texto, Bolsonaro afirma que nunca teve “intenção de agredir quaisquer dos Poderes” após as manifestações do 7 de setembro, em que criticou o Supremo Tribunal Federal (STF).

Para a oposição, a nota diminui o clima de tensão entre os Poderes, mas não diminui a responsabilidade de Bolsonaro nas pautas antidemocráticas defendidas na terça-feira (7). Já aliados e moderados comemoraram o recuo do presidente em busca de harmonia entre os Poderes e cobraram atuação semelhante por parte do STF.

Oposição

Líder da oposição, o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) destacou que o tom pacificador só foi adotado pelo presidente da República após a mobilização de caminhoneiros aliados às pautas bolsonaristas ameaçarem o abastecimento em diversos pontos do País. “Bolsonaro procura incendiar o País e, depois que o fogo toma conta, não sabe como apagá-lo, e não tem sequer coragem de vir à público e gravar um vídeo dizendo que errou. Aí solta uma nota dizendo que falou o que falou no calor do momento, recuando de sua posição”, criticou.

Molon avaliou que a atitude de Bolsonaro nas manifestações convocadas por ele apenas agravou diversos problemas da população, como a instabilidade econômica e a inflação. “Gente cozinhando com lenha, fazendo sopa de ossos, procurando emprego há meses, tentando sustentar a família, tentando ter acesso a vacina, sem conseguir. Este é o Brasil real. E o presidente da República faz o quê? Não só deixa de resolver esses problemas como cria outros. Depois, é obrigado a recuar. Ainda bem que recuou! Melhor recuar do que insistir no erro”, disse.

Líder do PDT, o deputado Wolney Queiroz (PDT-PE) afirmou que Bolsonaro divide o Brasil. “É lamentável que, no meio de uma pandemia, enquanto esta Casa tenta cumprir o seu papel, tenta votar matérias, tenta socorrer o País, tenta aprovar coisas importantes para o povo, tenhamos que constantemente estar nos defendendo de ataques autoritários, ataques vis, ataques maldosos, ataques mentirosos às instituições, à democracia e à esta Casa”, lamentou.

O deputado Henrique Fontana (PT-RS) considerou a nota de Bolsonaro “a mentira do dia”. “Bolsonaro quer matar a democracia brasileira. Ele avança dois, três passos atacando a democracia, atacando as instituições. E no dia seguinte ele disfarça e mente que recuaria um passo para preservar as instituições”, disse.

Aliados

Para o líder do PSL, deputado Vitor Hugo (PSL-GO), no entanto, a oposição tem feito “um escarcéu” com os múltiplos pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro. “Ficou claro agora, pela presença de milhões e milhões de brasileiros nas ruas, no Sete de Setembro, quando nós comemoramos 199 anos da nossa Independência, ficou claro que o Presidente da República mantém o apoio sólido, o apoio maciço da população brasileira”, disse.

Ele afirmou que Bolsonaro é a favor da harmonia entre os Poderes. “O que nós desejamos é que os Poderes, sim, cheguem a um consenso, em harmonia. É assim que nós entendemos a nota do Presidente Bolsonaro, a busca pela harmonia, a busca pela independência dos Poderes, a busca, sim, por respeito às decisões do Parlamento e por respeito às decisões do nosso Presidente”, disse.

A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) também criticou a oposição. “Quando o Presidente Bolsonaro coloca uma carta dessa em que ele se coloca como humilde para poder harmonizar os Poderes e fazer com que o Brasil ande para a frente, então [a oposição] acha ruim. Porque para quanto pior, melhor”, afirmou.

O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) comemorou a atitude de Bolsonaro e disse esperar que o STF também faça uma inflexão. “Que bom que o presidente Bolsonaro fez esse gesto no dia de hoje e que venha também do outro lado da Praça dos Três Poderes o mesmo gesto de moderação e que nós aqui na Casa do Povo continuemos sendo uma casa de equilíbrio”, afirmou.

O deputado Capitão Alberto Neto (Republicanos-AM) também criticou a atuação do STF e afirmou que todas as instituições devem “trabalhar dentro das quatro linhas da Constituição”. “Peço que o Congresso entenda. Acho que é hora de paz. A indicação do Presidente Bolsonaro nesta nota é paz, como líder. Mesmo contra alguns radicais, mas o Presidente está aqui para pagar o preço como líder, agradando uns, desagradando outros”, disse.

Escrito por Temer

A atuação do ex-presidente Michel Temer como articulador da nota oficial foi destacada por alguns parlamentares.

Para o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), que participou de manifestações da terça-feira, a atuação de Temer é digna de tristeza pela proximidade entre o ex-presidente e o ministro Alexandre de Moraes, um dos alvos dos bolsonaristas. “Esta nota partiu de uma redação feita pelo ex-presidente da República Michel Temer, responsável pela estadia do déspota Alexandre de Moraes em uma das cadeiras do Pleno do STF”, criticou.

O deputado também disse que a pacificação está sendo cobrada apenas do Executivo. “Eu não sou contra a pacificação. Eu sou contra é a que essa pacificação mais uma vez venha de um lado só. Ora, por que não se mostrou a intenção da nota do governo federal e, concomitantemente, uma nota do STF, uma nota conjunta, pelo bem do País?”, criticou.

O deputado Ivan Valente (Psol-SP) disse que a inflexão de Bolsonaro não tem a ver com a pacificação nacional. “A carta que Bolsonaro divulgou não foi escrita por ele, mas pelo Temer. Ele pediu desculpas a Alexandre de Moraes porque tem medo da prisão do Carluxo, do Flávio Bolsonaro e de todos os que praticaram rachadinha”, disse.

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