Por Kleber Karpov
A Secretaria de Desenvolvimento Social do Distrito Federal (Sedes-DF) realizou, na quinta-feira (09/Set), o 4º Ciclo de Diálogos, um encontro que reuniu as equipes dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas) e do Centro Pop de Brasília. O evento teve como principal foco a capacitação dos profissionais para o atendimento humanizado à população LGBTQIAPN+ que é vítima de violações de direitos, promovendo debates cruciais sobre a diversidade sexual e de gênero no contexto do acolhimento.

A iniciativa, que incluiu uma programação com apresentação artística e café da manhã – numa pitoresca mistura de política pública e evento social –, despertou uma observação irônica. Enquanto a pasta se dedica a “garantir que todos, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual, tenham seus direitos respeitados e protegidos”, conforme destacou a secretária de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra, a necessidade em si deste treinamento revela um paradoxo social. É lamentável que, após décadas de debate sobre direitos humanos, os profissionais da assistência social ainda precisem de “diálogos” e “reflexões” básicos para “promover um atendimento que valoriza cada vez mais a diversidade”, como se a humanidade e o respeito não fossem pré-requisitos fundamentais para o exercício da função pública. A ressaltou:
“Esse encontro reafirma nosso compromisso em garantir que todos, independentemente de sua identidade de gênero ou orientação sexual, tenham seus direitos respeitados e protegidos. Por meio de encontros e reflexões dos nossos profissionais, buscamos promover um atendimento que valoriza cada vez mais a diversidade”, disse Ana Paula Marra.
Entre os tópicos centrais discutidos durante o ciclo de capacitação, houve a devida distinção entre conceitos como a identidade e a expressão de gênero, o sexo biológico e a orientação sexual, demonstrando que, para o serviço público, o básico requer um glossário oficial. O evento também abriu espaço para o diálogo direto com representantes do movimento LGBTQIAPN+, sigla que abrange as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queers, intersexo, assexuais, pansexuais e não binárias, entre outras classificações, reforçando a relevância do tema para a realidade prática dos atendimentos.
Aline Pinho, coordenadora da Proteção Social de Média Complexidade da Sedes, justificou a iniciativa, expondo a fragilidade na base de conhecimento dos servidores. De acordo com a coordenadora, ao longo do ano, em uma série de encontros voltados à discussão de temas relevantes para a realidade dos profissionais e usuários, “identificamos que a pauta da diversidade ocupa um lugar central e ainda desperta muitas dúvidas. Então, nosso objetivo é capacitar os servidores para assegurar um atendimento cada vez mais humanizado e acolhedor ao público”. Esse diagnóstico confirma a triste realidade de que a falta de preparo ou o preconceito obriga o Estado a gastar recursos em treinamentos sobre o que deveria ser senso comum no acolhimento de populações vulneráveis.
O papel do Creas na Proteção
O debate sobre acolhimento humanizado ganha contornos mais dramáticos quando se entende a diferença na função da unidade especializada. O Creas, ao contrário do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), que se dedica primariamente à prevenção de violações, atua no momento em que indivíduos ou famílias já tiveram seus direitos violados. O objetivo primordial da unidade é prestar auxílio e viabilizar a superação dos danos causados por situações graves, como violências, maus-tratos ou negligência familiar contra adultos, crianças e idosos.
A unidade especializada oferece acompanhamento contínuo e especializado, que se inicia com a escuta qualificada e o atendimento emergencial. Além disso, no espaço são feitos encaminhamentos para a rede de serviços essenciais, como saúde, educação, segurança e moradia, além da inclusão de famílias em programas e benefícios socioassistenciais. O Distrito Federal possui uma rede de 13 unidades de Creas espalhadas por diferentes regiões administrativas, incluindo o notável Creas da Diversidade, que fica no Plano Piloto e é especificamente direcionado para a atenção a situações de discriminação ligadas à orientação sexual, identidade de gênero, raça, etnia ou religiosidade.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










