Por Kleber Karpov
A defensora de direitos humanos Ana Paula Gomes de Oliveira, de 48 anos, recebeu nesta semana o Prêmio Martin Ennals, considerado o Nobel dos Direitos Humanos. A homenagem reconhece a atuação da ativista na denúncia da violência de Estado e na defesa de mães e familiares de vítimas da letalidade policial. Moradora da favela de Manguinhos, no Rio de Janeiro, Ana Paula se tornou uma referência nacional e internacional após a morte de seu filho Johnatha em 2014, durante uma ação policial.
Johnatha tinha 19 anos quando foi atingido nas costas por um disparo feito por um agente da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), em meio a um tumulto entre policiais e moradores. O processo judicial ainda deve aguardar um novo julgamento, seguindo sem um desfecho definitivo.
Luto transformado em luta
Ana Paula transformou o luto em luta. Ela é cofundadora do movimento Mães de Manguinhos, um coletivo de mulheres negras que deve denunciar o racismo institucional e cobrar a responsabilização do Estado em casos de homicídios, prisões ilegais e outras violações. Atuação essa, integrada à Rede de Assistência às Vítimas da Violência de Estado (Raave). O grupo oferece apoio psicossocial às famílias e articula propostas de reformas legislativas.
Em entrevista exclusiva concedida em 2024, a ativista afirmou que a luta deu sentido à sua vida. “Sinto que uma parte de mim morreu com meu filho. Através da minha luta, encontrei uma maneira de manter meu papel materno. Se eu parar de fazer isso, eu morro”, disse Ana Paula.
Críticas à violência policial
Apesar das ameaças e intimidações que enfrenta, a ativista segue como uma das vozes mais ativas no país no enfrentamento ao racismo e à violência policial. Após a operação policial que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro no final de outubro, Ana Paula defendeu mecanismos de regulação e transparência das operações em favelas.
“O que a gente está cobrando é que as operações policiais aconteçam dentro da legalidade, assim como acontece em outras regiões onde as pessoas têm nível econômico maior e as coisas acontecem com respeito”, disse a mãe de Johnatha.
Em crítica direta à atuação estatal em comunidades, a defensora de direitos humanos afirmou que a ditadura nunca terminou para a população da favela. “A ditadura acabou para a classe média e para os artistas. Na favela, ela nunca terminou. A prática de tortura, de desaparecimentos forçados e assassinatos continua, por meio do braço armado do Estado”, concluiu a ativista.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










