Por Kleber Karpov
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) formalizou a retirada do status de região livre de transmissão endêmica do sarampo no continente americano. A decisão da Opas se deu após a constatação da circulação sustentada do vírus no Canadá por um período de 12 meses, o que configura a transmissão endêmica da doença (11/Nov). O ato se consolida como um retrocesso na saúde pública da região, que já havia obtido a certificação de eliminação da doença.
Jarbas Barbosa, diretor da Opas, explicou que se um país na região perde o certificado, a região toda acaba perdendo essa condição. A perda é reversível, mas a Opas alerta que a região deve continuar enfrentando o risco de reintrodução e disseminação do vírus entre populações não vacinadas ou subvacinadas.
Surtos e a situação nas américas
Até 7 de novembro de 2025, houve a notificação de 12.596 casos confirmados de sarampo em dez países do continente americano, incluindo o Brasil. A grande maioria dos casos se concentra no Canadá, no México e nos Estados Unidos, que juntos somam 95% das ocorrências. A doença causou 28 mortes neste ano: 23 no México, três nos Estados Unidos e duas no Canadá.
Sete nações apresentam surtos ativos do sarampo: Canadá, México, Estados Unidos, Bolívia, Brasil, Paraguai e Belize. Segundo a Opas, a maioria destes surtos foi desencadeada por casos importados de outras regiões do mundo.
Os dados epidemiológicos mostram que 89% dos indivíduos infectados não se vacinaram ou tinham a situação vacinal desconhecida. As crianças com menos de 1 ano de idade se mostram como as mais afetadas e as mais propensas a desenvolver complicações graves da doença. Antes do início da década de 1990, o sarampo era uma das principais causas de mortalidade infantil.
“Enquanto o sarampo não for eliminado em nível mundial, nossa região continuará enfrentando o risco de reintrodução e disseminação do vírus entre populações não vacinadas ou subvacinadas. Nesse momento, nós temos vários surtos de sarampo no mundo, os países da América recebem todos os dias casos importados de outras regiões. Mas nós já demonstramos antes, que com compromisso político, cooperação regional e vacinação sustentada, podemos voltar a ter o certificado na região”, complementou Barbosa, diretor da Opas.
O vírus e a situação no Brasil
O vírus do sarampo é um dos mais contagiosos. Uma pessoa infectada se pode transmitir para até 18 pessoas. Apesar de a vacina ter reduzido drasticamente a prevalência global, o sarampo pode causar complicações sérias, como cegueira, encefalite e até mesmo a morte.
“O vírus do sarampo é um dos mais contagiosos. Uma pessoa infectada pode transmitir pra até 18 pessoas. Graças às vacinas, muitas pessoas nunca viram um surto na sua vida, mas o sarampo pode causar complicações sérias como cegueira, encefalite e até mesmo a morte. Crianças pequenas podem ter encefalite quase fatal, anos mais tarde. Pelo menos 95% da população tem que estar vacinada com as duas doses pra gente interromper isso e em todas as comunidades, sem exceção”, alerta Barbosa, diretor da Opas.
Apesar de ter registrado 34 casos em 2025, o Brasil ainda mantém o certificado de país livre do sarampo, o qual reconquistou em novembro do ano passado. Diferentemente do Canadá, no Brasil não se estabeleceu uma contaminação interna e sustentada da doença pelo período mínimo necessário. Os casos no país se distribuem em sete unidades da federação: Distrito Federal (um), Rio de Janeiro (dois), São Paulo (um), Rio Grande do Sul (um), Tocantins (25), Maranhão (um) e Mato Grosso (três).
A situação mais grave se deu na cidade de Campos Lindos, em Tocantins. A origem se deu com a chegada de quatro pessoas infectadas durante viagem à Bolívia. Elas transmitiram o vírus para outros 18 moradores de uma comunidade que possui histórico de resistência à vacinação.
Vigilância e cobertura vacinal
O presidente da Câmara Técnica para a Eliminação do Sarampo, Rubéola e Síndrome da Rubéola Congênita do Ministério da Saúde, Renato Kfouri, confirmou que o órgão se reuniu com representantes da Opas em novembro para apresentar a situação do país.
O órgão fez a recomendação de intensificar a vigilância e aumentar a cobertura da segunda dose da vacina. Kfouri acrescentou: “Fizeram poucas recomendações, de intensificar a vigilância e aumentar a cobertura da segunda dose da vacina. Mas os casos de Campos Lindos e do Mato Grosso já mostram isso: nós estamos detectando precocemente os casos, fazendo bloqueio vacinal, e especialmente indo nesses bolsões de baixa cobertura”.
O presidente da câmara técnica, que também exerce a função de vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), aponta que a quantidade crescente de casos, sobretudo em países vizinhos como Argentina e Bolívia, deve aumentar a preocupação com o Brasil. Para a manutenção do status de zona livre, se faz necessária a vigilância de casos com a detecção rápida de suspeitas e, evidentemente, a vacinação com as duas doses.
“Se a gente não chegar a, no mínimo, 95% de cobertura, vamos ter de novo surtos e mais surtos. O Ministério da Saúde tem se engajado muito na prevenção do sarampo, mas chegar ao ponto de perder o certificado de eliminação nas Américas é, sem dúvida, um retrocesso muito significativo e um risco grande pra população de todo o continente”, lamentou Isabela Ballalai, diretora da Sbim.
A vacina contra o sarampo está disponível no Sistema Único de Saúde. A primeira dose deve se tomar aos 12 meses de idade, por meio do imunizante tríplice viral. A segunda dose se aplica aos 15 meses, com a tetraviral. Qualquer pessoa com até 59 anos que não tenha o comprovante de vacinação ou que não tenha completado o esquema vacinal deve atualizar a sua carteira de vacinação.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.











