Por Kleber Karpov
O Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), afirmou nesta segunda-feira (22/Set), em São Paulo, que o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil pode ser votado na próxima semana, ao mesmo tempo em que pregou a necessidade de “tirar da frente todas essas pautas tóxicas”. Paradoxalmente, durante evento do banco BTG Pactual, Motta dedicou boa parte de seu tempo a defender a essência das mesmas propostas que levaram milhares de manifestantes às ruas no domingo, como a PEC da Blindagem e a redução de penas para condenados pelo 8 de janeiro.
A estratégia de Motta consiste em oferecer uma pauta de impacto positivo na vida de milhões de brasileiros, enquanto tenta, em paralelo, administrar as crises e avançar com propostas de interesse corporativo do parlamento. “Essa é uma pauta importante, nós sabemos o quanto ela irá trazer, do ponto de vista da justiça tributária, avanços significativos”, disse sobre a isenção do IR, pedindo “responsabilidade” aos colegas na apresentação de emendas que possam comprometer as contas públicas.
As ‘cascas de banana’
Logo após acenar com a pauta econômica, Motta lamentou que o noticiário seja dominado pela “pauta do conflito” e defendeu a remoção das “cascas de banana” que tensionam o Congresso. Contudo, ao ser questionado sobre os alvos dos protestos de domingo, ele mesmo passou a justificar as medidas. “Nós vamos tirar essas pautas tóxicas, porque ninguém aguenta mais essa discussão. O Brasil tem que olhar para frente”, afirmou, antes de mergulhar na defesa de cada uma delas.
Apesar de reconhecer a legitimidade das manifestações, que tiveram seu nome como um dos principais alvos, o presidente da Câmara investiu na defesa da Proposta de Emenda à Constituição que dificulta a abertura de processos contra parlamentares. Rebatizando-a de “PEC das Prerrogativas”, Motta argumentou que o debate foi “distorcido” e que o objetivo não é blindar crimes comuns, mas conter supostos excessos do Judiciário. “Nós temos deputados sendo processados por crimes de opinião, temos deputados sendo processados por discursos na Tribuna”, justificou. A narrativa, no entanto, ignora o clamor popular e a provável rejeição da matéria na CCJ do Senado, já na próxima quarta-feira (24/Set).
Anistia por outro nome
Motta também defendeu uma solução para os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, afirmando que, sem superar esse debate, “muito dificilmente a Câmara vai produzir normalmente”. A saída, segundo ele, seria uma mudança na lei para rever penas consideradas exageradas pelo Congresso, permitindo que o Judiciário reavalie as sentenças e envie os presos “para casa”.
A proposta, relatada pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), evita o termo “anistia”, mas na prática busca o mesmo efeito de perdão ou abrandamento substancial das penas. Para Motta, essa seria a fórmula para “distensionar um pouco esse ambiente político”, uma condição para que o país possa finalmente discutir uma agenda que, segundo ele, não seja “tóxica”. A ironia parece ser a de que o remédio proposto para a toxicidade seja o próprio veneno que a população rechaçou nas ruas.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










