Por Kleber Karpov
Mais de 60% dos 177 mil casos de câncer colorretal (CCR) registrados em hospitais públicos e privados no Brasil entre 2013 e 2022 foram diagnosticados em estágios avançados da doença. O estudo Câncer colorretal no Brasil – O desafio invisível do diagnóstico, lançado pela Fundação do Câncer no Dia Nacional de Combate ao Câncer (27/Nov), revelou os dados.
O volume de casos que chega ao sistema em estágio avançado chamou a atenção do diretor-executivo da Fundação do Câncer, cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni. Ele disse que, no país como um todo, 50% das pessoas chegam ao estágio já metastático (estágio 4) e mais 25% no estágio 3.
Diagnóstico precoce
O avanço da doença e a demora no diagnóstico reduzem de forma acentuada a possibilidade de cura. O diagnóstico precoce é fundamental, segundo Maltoni. Ele orientou que, uma vez identificado qualquer tipo de sintoma, por mais leve que seja, a pessoa deve procurar um serviço de saúde para investigar.
A intervenção feita pelo Estado, para chamar a população alvo para exames e detecção precoce, deve ser fundamental. Isso porque é possível detectar não só um tumor, mas também as lesões precursoras que podem desenvolver o câncer, explicou Maltoni.
No Brasil, o primeiro exame para detecção precoce do CCR é a pesquisa de sangue oculto nas fezes, menos custosa. Caso o resultado dessa pesquisa se mostre positiva ou alterada, é indicado prosseguir na investigação por meio do exame de colonoscopia.
Antecipação da faixa etária
O CCR é mais comum em pessoas entre os 50 e 60 anos. Atualmente, o rastreamento é feito para pessoas acima de 50 anos. O risco é que, se começar o rastreamento só com 50 anos, se pode chegar tarde. A Fundação do Câncer sugere antecipar a faixa etária para 45 anos ou 40 anos, para que se possa identificar as lesões precursoras bem iniciais. O objetivo é tratar até mesmo antes de um adenoma, por exemplo, ou um pólipo do intestino se transformar em um carcinoma.
Prevenção
O estudo também mostra a importância da prevenção primária, que é o hábito de vida. Há uma correlação direta entre o volume de CCR e a obesidade. Nas regiões do país onde a taxa de obesidade é maior, há também uma maior taxa de CCR. O tabagismo tem correlação direta com a doença.
“São aquelas medidas que a gente vive falando, de evitar sobrepeso, evitar falta de atividade física, excesso de bebida alcoólica, não fumar. Isso é fundamental, porque a gente sabe que isso ajuda a reduzir casos novos de câncer. No caso do câncer colorretal, isso é uma verdade”, afirmou Luiz Augusto Maltoni.
As capitais Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba e Campo Grande, todas com proporção de fumantes superior a 12%, possuem altas taxas de incidência da doença, o que reforça a relevância do tabagismo como fator de risco para o CCR. Capitais como Porto Alegre, Campo Grande, Rio de Janeiro e São Paulo, todas com prevalência de obesidade igual ou superior a 24%, estão entre aquelas com as maiores taxas de incidência do tumor. Daí a importância de políticas voltadas para alimentação saudável e atividade física.
Incidência regional e tratamento
O câncer de cólon e de reto é mais comum em brancos (34,6%), seguidos de negros (30,9%). Quase metade dos casos registrados no país está concentrada na Região Sudeste (49,4%). As regiões Sudeste e Sul concentram o maior volume de equipamentos hospitalares de diagnóstico e tratamento, bem como de casos de CCR.
A Região Centro-Oeste é o local onde o deslocamento da população é maior: perto de 18% dos pacientes desta região têm que sair para fazer o seu tratamento em outra localidade do país. Em segundo lugar, vem a Região Norte, com 6,5%.
O boletim mostra também que 47,7% dos pacientes possuem apenas o ensino fundamental. A cirurgia segue sendo a principal forma de tratamento inicial, seja de maneira única ou associada a outras modalidades.
Política permanente
A Fundação do Câncer estima aumento de 21% no número de casos entre 2030 e 2040, alcançando cerca de 71 mil casos novos e cerca de 40 mil óbitos. Maltoni considerou o volume “alarmante”, devido ao crescimento e envelhecimento da população.
O médico disse que é preciso mudar esse cenário nos próximos 15 anos e trabalhar fortemente a questão da prevenção, da detecção precoce e do rastreamento. Ele avalia que a mudança deve ser capitaneada pelo Ministério da Saúde.
O sistema de saúde inglês, por exemplo, envia aos pacientes um kit para colher amostra das fezes, e, se o resultado der alterado, a pessoa é chamada para fazer a colonoscopia. Isso só funciona com uma política de Estado.
“Tem que ter uma política pública, uma política de estado permanente, que independa de quem esteja no governo, para que esses resultados aconteçam. A gente tem exemplo disso na política de controle do tabaco, que virou uma política de Estado que ao longo dos últimos 35 anos, 40 anos, tem sido colocada de maneira prioritária por qualquer governo que entre. Não tem outra maneira de fazer e isso vale para qualquer lugar do mundo”, afirmou Luiz Augusto Maltoni.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










