Por Kleber Karpov
A Polícia Federal (PF) identificou dois suspeitos de envolvimento no ataque armado contra um grupo de indígenas Guarani Kaiowá, em Iguatemi, Mato Grosso do Sul (MS), resultando na morte de um indígena. Um dos suspeitos foi preso em flagrante, neste domingo (16/Nov), após ser reconhecido por uma das quatro vítimas feridas. O ataque ocorreu na retomada Pyelito Kue, a cerca de 394 quilômetros de Campo Grande.
O indígena Vicente Fernandes Vilhalva, de 36 anos, foi alvejado na cabeça e morreu no local. O ataque ocorreu por volta das 4h da madrugada. A PF não divulgou a identidade dos suspeitos, nem informou se o segundo foi detido, mas revelou que o homem preso é de nacionalidade paraguaia, se declara indígena e chegou a morar na ocupação Pyelito Kue.
Equipes da PF e do Instituto de Criminalísticas apreenderam no local do ataque duas espingardas calibre 12 “utilizadas por seguranças privadas de uma fazenda” e coletaram cápsulas e material biológico, que devem ser periciados.
Ação de homens armados
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ao menos 20 homens fortemente armados atacaram os Guarani Kaiowá que participam da retomada de Pyelito Kue, na Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá I. O órgão, vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), relatou que os atiradores pegaram de surpresa parte dos indígenas que dormiam.
Testemunhas afirmam que, após balear Vicente Fernandes Vilhalva, os atiradores ainda tentaram levar o corpo da vítima, sendo impedidos por outros indígenas. Quatro Guarani Kaiowá ficaram feridos por armas de fogo ou balas de borracha, incluindo uma mulher e dois adolescentes.
As autoridades policiais investigam se uma segunda morte, a de um vigilante que atuava para uma empresa de segurança privada na região, tem relação com o ataque a Pyelito Kue. A Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública chegou a relacionar os casos, mas a responsável pela empresa garantiu à reportagem que o vigilante morreu em outras circunstâncias, durante uma “operação de escolta armada”, conforme consta no atestado de óbito.
Contexto de conflito fundiário
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) cobrou, em nota, “uma investigação rigorosa e uma ação conjunta para combater os grupos de pistoleiros que atuam na região”. A fundação defendeu que o governo deve fortalecer a proteção dos indígenas e de seus territórios, classificando o assassinato como inaceitável.
O ataque a Pyelito Kue se insere em um contexto de retomada de áreas reivindicadas como territórios tradicionais indígenas. “As retomadas dos indígenas Guarani Kaiowá na região se intensificaram nos últimos meses com o objetivo de frear a pulverização de agrotóxicos, que vem causando adoecimento e gerando insegurança hídrica e alimentar”, sustentou a Funai.
A comunidade afirma esperar há cerca de 40 anos pela conclusão do processo demarcatório da Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá I, cuja área foi retomada pelos indígenas em 3 de novembro.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










