Por Kleber Karpov
A recente incursão policial de larga escala nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro reacendeu o debate nacional sobre a eficácia de estratégias de Segurança Pública baseadas no confronto direto. A operação no RJ, realizada em (30/Out) e alvo de críticas pela falta de planejamento estratégico e alta letalidade, com saldo de mais de 100 óbitos, desses, quatro de policiais, contrasta com a nova diretriz de inteligência e desarticulação financeira adotada pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo. Embora evite críticas diretas a ação no Rio, o secretário paulista, o deputado federal licenciado, Guilherme Derrite (PL/SP), destacou recentemente resultados de suas ações estratégicas coordenadas.
O modelo do Rio em xeque
Especialistas e organizações de direitos humanos apontam que a operação nos morros cariocas repete um modelo focado na retomada territorial temporária por meio da força, sem desarticular as bases financeiras e logísticas das facções de narcotráfico. Críticos argumentam que a ausência de um plano de inteligência prévio resultou em um cenário de confronto intenso, com mortes de civis e policiais, mas com baixo impacto na estrutura de poder do crime organizado, para além da favela do Morro do Alemão.
Questionado em entrevista à Globo News, nesta quinta-feira (30/Out), sobre a ação no RJ, Derrite, de mesma base ideológica ao governo do Rio, evitou condenar a operação. Ele afirmou que “o Estado do Rio de Janeiro teve a coragem de fazer o que outros governos não fizeram”. No entanto, o secretário ponderou sobre o resultado, afirmando que “toda vez que tem um policial que morre num confronto, para mim, é uma operação que a gente não pode classificar como extremamente bem-sucedida”.
A mudança estratégica em SP
Mais que isso, Derrite, que foi duramente criticada por operações consideradas desastrosas e letais, em passado recente, como a “Escudo” e a “Verão na Baixada Santista”, passou a promover mudanças de foco e obter melhores resultados. Isso após a SSP-SP passar a destacar publicamente uma abordagem de “plano estruturado”, baseada em três pilares: monitoramento e captura de lideranças, asfixia da cadeia logística e combate à lavagem de dinheiro.
Derrite, aproveita o momento de crítica a ação no Rio de Janeiro, para usar as redes sociais e enfatizar os resultados práticos dessa nova tática, que prioriza a desarticulação financeira sobre o confronto territorial.
“Hoje, São Paulo tem uma estratégia bem definida e bem clara no combate ao crime organizado… Aí nesse ponto, nós investimos no laboratório de lavagem de dinheiro do Dipol, da Polícia Civil, identificamos, de janeiro de 23 até hoje, mais de 21 bilhões de reais do PCC, em várias inquéritos que estavam esparços”, declarou Derrite em publicação na rede social X (Antigo Twiiter), ao exaltar inclusive, a parceria e ação conjunta com o MP.
Mais uma parceria entre a Polícia Militar e o Ministério Público, por meio do Gaeco, que desarticula um esquema milionário de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. pic.twitter.com/ex6aD2b2cJ
— Guilherme Derrite (@DerriteSP) October 30, 2025
A eficácia dessa abordagem foi exemplificada, por Derrite, ao referenciar recente operação conjunta com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organoziado (Gaeko), do Ministério Público, em Campinas. A ação, baseada em inteligência, resultou na prisão de lideranças do PCC e na apreensão de armas e mais de R$ 200 mil, com menor letalidade.
“Narcoterrorismo”?
Apesar da mudança para uma retórica de inteligência, o secretário paulista mantém um discurso duro, alinhado ao do Rio, na classificação dos criminosos. “Agora, não dá também para a gente classificar esses narcoterroristas que estavam com granadas, com fuzis 7.62, como vítimas e coitadinhas, porque eles não são. Eles estão atentando contra o Estado, aí sim esse que atenta contra o Estado Democrático de Direito”, disparou Derrite.
O uso do termo por Derrite, pelo governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL/RJ) para classificar as organizações criminosas dos morros do RJ, também repercutido pelo senador, Eduardo Bolsonaro (PL/RJ) e o irmão, o deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PL/RJ), demonstra, segundo especialistas, que pode se tratar de um perigoso instrumento político, bem mais grave.
Para o professor de Relações Internacionais Gilberto Maringoni, da UFABC, a manobra busca legitimar o extermínio. “A classificação de terrorista é uma classificação que você dá ao inimigo que não negocia. O terrorista é um inimigo que está cometendo crimes e se ele não for detido, você tem que abater. Assim, quando você vai às comunidades do Rio de Janeiro e coloca todo mundo como narcoterrorista, essa gente é um potencial cadáver”, alerta Maringoni.
Intervenções militares dos EUA
Especialistas em segurança, como Bruno Paes Manso (USP) e João Ricardo Dornelles (UFF), alertam que o uso do termo “narcoterrorismo” é perigoso. Argumentam que o conceito, importado da doutrina de segurança dos EUA, não possui tipificação na lei brasileira e serve para justificar ações de exceção, tratando a segurança pública como guerra. O risco, segundo analistas, é que esse enquadramento abra precedentes para legitimar cooperações ou futuras intervenções militares norte-americanas no país.
Sob essa ótica, é importante ressaltar que o governo do Rio de Janeiro entregou um relatório ao governo de Donald Trump, nos EUA, com pedido de classificação do Comando Vermelho como organização terrorista. Derrite informou ter feito o mesmo sobre o PCC.
Importante ressaltar que o ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro (PL/RJ), condenado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), recentemente, a prisão por prática de ao menos cinco crimes, dentre esses, a tentativa de golpe de estado e de abolição do Estado Democrático de Direito. O que aumenta o empenho os filhos para obter alguma solução que ‘reverta’ a condição do pai.
Sob essa ótica, para Alberto Kopitke, diretor Executivo do Instituto Cidade Segura, a narrativa também não ocorre por uma acaso e serve a uma agenda política interna da extrema direita, que busca “criar estados de exceção” e “disputar eleição” após o enfraquecimento de outras pautas. Mas, externamente, a estratégia busca alinhar o Brasil aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos. Kopitke destaca que a iniciativa “é um movimento do governo americano que… vem tensionando o México, a Colômbia, a Venezuela”. Segundo Gonçalves, trata-se do “regresso da Doutrina Monroe”, abrindo uma “brecha jurídica e diplomática para que os Estados Unidos intervenham”.
Distinção técnica e soluções reais
Kopitke é categórico ao afirmar que a equiparação é tecnicamente insustentável, pois facções buscam se infiltrar no sistema financeiro, enquanto grupos terroristas visam derrubar o Estado. O especialista critica a contradição dos EUA em pressionar por essa classificação, mas se omitir sobre o tráfico de armas.
“O problema-chave do Rio de Janeiro se chama fuzil. Veja, não tem uma medida, por exemplo, nessas que o governo americano falou sobre o tráfico internacional de armas, que leve em conta que uma parte importantíssima sai dos próprios Estados Unidos”, critica Kopitke.
No Legislativo
O presidente da Câmara, Rodrigo Mota (Republicanos-PB), com a repercussão do caso no Rio de Janeiro, indicou a intenção de colocar em apreciação do plenário, na segunda semana de novembro, Projeto de Lei 1.283/2025, de autoria do deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), que classifica facções criminosas como organizações terroristas.
O texto, atualmente em tramitação, em regime de urgência, na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania ( CCJC ), atualmente relatoria do Deputado federal, Nikolas Ferreira (PL-MG), equipara a atuação de facções a atos de terrorismo, com agravantes para condutas associadas ao domínio territorial, como o uso de armas de guerra, bloqueio de vias públicas e instalação de barricadas — práticas recorrentes em comunidades dominadas pelo tráfico ou milícias.
O autor do projeto, o deputado federal Danilo Forte, (União Brasil-CE), afirma que o país “está vivendo o caos na Segurança Pública”, e defende a ação, inclusive das Forças Armadas em intervenções contra o crime organizado, com uma eventual
O PL, deve contar com o próprio Derrite que deve se licenciar da Secretaria para tratar especificamente dessa demanda e entregar o parecer, em esboço, assim que reassumir o mandato. Iniciativa essa que atende a pressão da bancada da bala no Congresso e de governadores insatisfeitos com o governo federal.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










