Por Kleber Karpov
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu as boas-vindas às delegações globais na abertura da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), a COP30, em Belém, no Pará, nesta segunda-feira, 10 de novembro. Em seu discurso, Lula clamou por uma união global contra as desigualdades e cobrou a implementação urgente e efetiva de medidas já acordadas, salientando o papel da ciência como bússola para indicar os caminhos.
O presidente classificou a emergência climática como uma crise de desigualdade. “A mudança do clima já não é ameaça do futuro. É uma tragédia do presente. O furacão Melissa que fustigou o Caribe e o tornado que atingiu o Paraná deixaram vítimas fatais e um rastro de destruição”, disse Lula, ao mencionar o tornado que afligiu o município de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, na última sexta-feira (7/Nov).
O presidente ressaltou que a mudança do clima espalha dor e devastação, especialmente entre as populações mais vulneráveis, das secas na África e na Europa às enchentes na América do Sul e no Sudeste Asiático. Ele defendeu que se mude pela escolha. “Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é ditado pela tragédia. Devemos a nossos filhos e netos a oportunidade de viver em uma Terra onde seja possível sonhar”, concluiu Lula.
Velocidade e negacionismo
Para Lula, a COP30 em Belém deve se configurar como um marco, exigindo que os compromissos firmados e os caminhos indicados pela ciência ganhem uma nova dimensão. Ele disse que o evento será a “COP da verdade” e defendeu uma nova derrota aos negacionistas.
“Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só evidências da ciência, mas os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, afirmou o presidente.
O presidente brasileiro reconheceu o Acordo de Paris de 2015 como o caminho para o futuro da humanidade, mas destacou que o percurso deve ser seguido com mais velocidade. “Sem o Acordo de Paris, o mundo estaria fadado a um aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século. Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada. No ritmo atual, ainda avançamos rumo a um aumento superior a um grau e meio na temperatura global. Romper essa barreira é um risco que não podemos correr”, alertou Lula.
Antes do discurso de Lula, houve a passagem da presidência da COP ao embaixador André Corrêa do Lago. Ele recebeu o cargo de Mukhtar Babayev, do Azerbaijão, presidente da COP29, em Baku.
“Estamos reunidos aqui para tentar mudar as coisas. O ser humano é essencialmente bom, mas sabemos que é capaz de coisas terríveis, como a guerra, que, infelizmente, voltou a estar próxima de tantas pessoas”, disse Corrêa do Lago. O novo presidente da COP30 lembrou a palavra indígena brasileira “mutirão”, que deve simbolizar a atuação conjunta para a solução das grandes questões.
Chamado à ação
O presidente Lula ressaltou a importância do Chamado de Belém pelo Clima, documento com propostas para se resgatar a confiança mútua e o espírito de mobilização coletiva em três frentes de ação. A primeira parte deve ser um apelo para que os países cumpram seus compromissos, implementando as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) ambiciosas, garantindo financiamento, transferência de tecnologia e capacitação, e dando maior atenção à adaptação.
Nos pontos seguintes, Lula pediu aos líderes mundiais que acelerem a ação climática por meio de uma governança global mais robusta. O presidente voltou a destacar a proposta de se criar um Conselho do Clima, vinculado à Assembleia Geral da ONU, para que se dê ao desafio climático a estatura política que ele merece.
Por fim, o presidente pediu que as pessoas estejam no centro das atenções da agenda. “Convoco a comunidade internacional a colocar as pessoas no centro da agenda climática. O aquecimento global pode empurrar milhões para a fome e a pobreza, fazendo retroceder décadas de avanços”, disse. Ele concluiu que é fundamental reconhecer o papel dos territórios indígenas e de comunidades tradicionais nos esforços de mitigação.
Lula ainda fez questão de agradecer e de homenagear o povo do Pará, reforçando que a conferência deve trazer uma nova compreensão sobre a floresta Amazônica. “Aqui vocês vão comer comidas que vocês não comeram em nenhum lugar do mundo, talvez o melhor peixe. E não se esqueçam de comer a maniçoba”, convidou Lula, ao pedir que os participantes mergulhem na cultura local.
O presidente acrescentou que a Amazônia não é uma entidade abstrata. “O bioma mais diverso da Terra é a casa de quase 50 milhões de pessoas, incluindo 400 povos indígenas, dispersa por nove países em desenvolvimento que ainda enfrentam imensos desafios sociais e econômicos”, afirmou Lula.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










