Publicado em 20/07/2025 às 00h40, Alterado em 20/07/2025 às 17h22
Por Kleber Karpov
Em aparente ‘resposta’ a colocação de tornozeleira no ex-presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, anunciou na sexta-feira (18/Jul) ter determinado a revogação dos vistos do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, familiares e “aliados na Corte”.
O anúncio ocorreu após o ex-presidente Jair Bolsonaro, alvo de uma operação de buscas e apreensões da Policia Federal (PF), ser submetido a utilização de tornozeleira eletrônica e recolhimento noturno entre 19h e 6h, em decorrência de atuação “dolosa e conscientemente de forma ilícita, conjuntamente com o seu filho, EDUARDO NANTES BOLSONARO, com a finalidade de tentar submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal ao crivo de outro Estado estrangeiro, por meio de atos hostis derivados de negociações espúrias e criminosas com patente obstrução à Justiça e clara finalidade de coagir essa CORTE no julgamento da AP 2.668/DF. No curso das investigações, portanto, as condutas ilícitas de EDUARDO NANTES BOLSONARO não só permaneceram, como também se agravaram com o auxílio direto de JAIR MESSIAS BOLSONARO (…)”., conforme anunciado por Moraes na decisão.
Nas palavras de Rubio, Moraes tem perseguido Bolsonaro e promovido censura. “A política de caça às bruxas de Alexandre de Moraes contra Jair Bolsonaro criou um complexo de perseguição e censura que viola os direitos dos brasileiros e também atinge os americanos. Ordenei a revogação dos vistos de Moraes, seus aliados na corte, e seus familiares, de forma imediata”, declarou.
Os aliados referenciados por Rubio, de acordo com fontes do governo federal, são outros sete ministros do STF: Luis Roberto Barroso, Edson Fachin, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Flavio Dino, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes.
Estranhamente, ficaram ‘isentos’ das sanções do ‘Tio Sam’, ou do ‘sobrinho’, os ministros Kassio Nunes e André Mendonça, ambos indicados ao STF por Bolsonaro. E, um terceiro, Luiz Fux, esse já antigo na casta dos magistrados da Suprema Corte, onde adentrou sob indicação da ex-presidente Dilma Rousseff.
“In Fux we trust”
Vale ressaltar que Fux, foi o ministro do STF aclamado por então promotores da república de Curitiba, com a célebre frase “In Fux we trust” (Acreditamos em Fux), pronunciada pelo então juiz, atual senador Sérgio Moro (União/PR) responsável pela da ‘Operação Lava Jato’, em troca de mensagens com o ex-promotor do Ministério Público Federal (MPF), Deltan Dalagnol.
Operação essa desmascarada posteriormente por The Intercept Brazil ao revelar o que ficou conhecido por ‘Operação Vazajato‘ dado a revelação de imparcialidade de Moro e, dentre outros motivos, as relações espúrias com a promotoria do caso, apontada pelo próprio STF anos depois.
Mas não eram apenas cinco Rúbio?
Embora Rubio tenha resolvido punir oito ministros do STF, a quem convencionou se tratar de “aliados de Moraes”, causa estranheza o ‘primo do Tio Sam’, aparentemente desconhecer que Bolsonaro, na prática é julgado por apenas os cinco ministros que compõem a primeira turma, nesse caso composto apenas por Moraes, Zanin, Dino, Cármem Lúcia e Fux.
Perguntas inquietantes
Dito isso, ficam as perguntas: Quem passou a relação para Rubio, dos ministros a serem sancionados, levou em conta apenas a relação de ministros da lista de “vingança”? Fux, uma vez que não foi sancionado e, tampouco indicado por Bolsonaro, ficou isento, por ser lavajatista, ou por ser público e notório a proximidade, ou melhor, a inclinação de Fux em ter um trato mais cauteloso para com Bolsonaro, ainda que documentos tenham apontado, até mesmo a intenção de golpistas assassinarem ministros do STF? E os ministros ‘isentados’, devem ao menos publicar uma nota de repúdio?
Rubio não foi à aula de história do Brasil
Enquanto a resposta não vem, e a banda do ‘Tio Sam’, ou do primo, ao falar em “caça as bruxas”, demonstra desconhecer, ou ignorar deliberadamente, parte da história brasileira recente, em que o ex e, atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a ser mantido preso por 580 dias, por um crime “indeterminado” aclamado por juízes da República de Curitiba. Ou ainda, que a ex-presidente Dilma Roussef (PT) tenha sofrido impeachment de uma suposta pedalada, assinada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que depois foi julgado improcedente. Tudo isso, corretamente, sem uma única manifestação ou interferência do governo norte-americano, quando o fazem em relação a Bolsonaro, sem sequer, ter o julgamento concluído.
Essa liberdade de expressão…
Com o agravante de, os Estados Unidos da América (EUA) viver uma completa disrrupção no que tange a liberdade de expressão, ao que tudo indica, querer impor à legislação brasileira, princípios estipulados pela à Primeira Emenda da legislação americana, atualmente, amplamente ignorada pelos EUA. Basta ver, conforme lembrou o ministro Flavio Dino, a recente determinação do governo norte-americano de se realizar vistoria nas redes sociais de estudantes brasileiros com pretensão de estudar na terra do ‘Tio Sam’
Em terras tupiniquins…
Do lado brasileiro, fica a solidariedade do Governo Federal na pessoa do presidente Lula aos ministros do STF “atingidos por mais uma medida arbitrária e completamente sem fundamento do governo dos Estados Unidos”, e o repúdio à prática de Rubio, ou do presidente dos EUA, Donald Trump.
“Estou certo de que nenhum tipo de intimidação ou ameaça, de quem quer que seja, vai comprometer a mais importante missão dos poderes e instituições nacionais, que é atuar permanentemente na defesa e preservação do Estado Democrático de Direito”, destacou Lula em comunicado publicado pelo Palácio do Planalto.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










