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02 maio 2024 06:59


Revoltado com atendimento, paciente internado no HRAN pode ser preso por publicar mensagens de ódio em rede social

Por Kleber Karpov

Na noite de segunda-feira (8/Abr), o técnico em edificações, Geraldo de Oliveira Uzeda, 55 anos, internado, desde quinta-feira (4/Abr), no Pronto-Socorro do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), quase foi preso, após publicar, na rede social, Facebook, mensagem classificadas como incitação a violência e apologia ao ódio. O caso foi denunciado, à polícia, após Uzeda sugerir que médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem fossem assassinados.

Em uma das mensagens, Uzeda afirma haver uma “guerra silenciosa” entre profissionais de Saúde, contra o GDF, que por sua vez estava, “prejudicando pacientes internados”. “A ordem, entre Médicos Enfermeiros e técnicos de enfermagem, e de não admitir nenhum paciente…O povo não tem nada a ver com a guerra de vocês!!!.”, afirma em várias mensagens, seguidas de fotos da estrutura do HRAN.

Revolta

Mas, chamou atenção, viralizou nas redes sociais e grupos do aplicativo Whatsapp, sobretudo os de servidores da Saúde, mensagens que sugerem o assassinato dos profissionais de saúde, por pacientes. “A população está dando um aviso… Depois não reclamem se os pacientes começarem a matar servidores!!!”.

 

Na mensagem a assistente social, servidora da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), identificada no Facebook, por Dalila Dourado, chegou a contestar a sugestão, ocasião em que Uzeda reforça a necessidade de “Pegar uma arma de fogo e sair matando!!!”.

O paciente justifica tal posição, ao acusar médicos e enfermeiros de maltratar pacientes “Chega de maltratar pacientes, idosos e portadores de deficiência…Os pacientes acamados estão impossibilitados de qualquer reação… Médicos e enfermeiros estão cometendo crimes e saindo ilesos!”

 

Em outra mensagem, a locutora Elza Nascimento também questiona tal mensagem e recebe como resposta, de Uzeda “E… Tem maluco armado, invadindo escolas… Agora é a vez de invadir unidades de saúde e matar médicos e enfermeiros e técnicos de enfermagem… Precisamos fazer alguma coisa para moralizar o sistema de saúde pública!!!”

Denúncias

O caso despertou medo, receio e indignação, por parte dos profissionais de saúde, que chegaram a denunciar o caso ao deputado distrital, Jorge Vianna (Podemos). Preocupado, o parlamentar acionou o secretário da Secretaria de Estado de Segurança Pública do DF (SSP-DF), Anderson Gustavo Torres, que encaminhou uma equipe do Centro Integrado de Operações de Brasília (CIOB), para averiguar a denúncia.

“Eu recebi aqui vários posts e fui ver no Facebook do indivíduo que está ameaçando servidores que inclusive está internado no HRAN e fazendo postagem de ódio, incitando crimes enfim. Acabei de falar com o secretário de Segurança Pública e ele já está mandando gente para investigar e ver o que está acontecendo. Fiquem tranquilos que isso vai se resolver ainda nesta noite. Vamos ficar de olho pois obviamente que pessoas desequilibradas cometem coisas absurdas.”, alertou Vianna, por meio de mensagem de áudio encaminhada em grupo de servidores da Saúde.

O presidente do Sindicato dos Médicos do DF (SINDMÉDICO-DF), Gutemberg Fialho, também publicou um vídeo no Whatsapp, em que afirma ter registrado um Boletim de Ocorrência na 1a Delegacia de Polícia. “Acabo de registrar a Ocorrência 3482 na 1a DP, onde comunico, a ação do cidadão que incita a violência e que cometam mortes nos hospitais.”, disse ao ler algumas das mensagens de Uzeda.

A outra parte

Por telefone, Política Distrital (PD) conseguiu conversar com Uzeda sobre a motivação e as ameaças publicadas no Facebook. Na ocasião, o técnico em enfermagem, afirmou ser portador de anemia falciforme e explicou que foi levado ao HRAN, na quinta-feira (4/Abr) por colegas de trabalho, após sentir fortes dores.

Sem identificar os profissionais, Uzeda reclamou da falta de médico, e de uma técnica em enfermagem, que teria ministrado 4ml de morfina, que ocasionou um “choque”, e resultou no aumento das dores. Mas, permaneceu sem assistência imediata de um médico. “Hoje de manhã estava sentindo mais dores, e não veio um médico me ver, somente depois que eu estava gemendo de dor, passando mal mesmo, que veio uma médica residente, e me prescreveu um remédio. Eu precisava de um médico hematologista”, segundo Uzeda, apto para diagnosticar as causas das dores.

Uzeda acusou ainda, a técnica em enfermagem de insinuar que o paciente tivesse votado no atual no governador Ibaneis Rocha (MDB), razão pela qual a saúde se mantém um caos. “Está havendo uma forma de pressionar o governo fazendo boicote e usar a população como massa de manobra, põe eles para difamar o governo. Eu disse que não tenho nada a ver com parada de vocês.”.

 

Reprodução: Whatsapp

A conversa foi interrompida, durante a entrevista, pois, a Polícia Militar chegou no Pronto Socorro para averiguar a denúncia do deputado distrital. “A polícia chegou aqui. Eles pediram para eu desligar o telefone.”, informou.

Em seguida, Uzeda fez duas postagens no Facebook, que confirma a presença da polícia no PS do HRAN. “A polícia está aqui para ‘defender’ servidores…”, seguida do anúncio “Acho que eu estou preso… Não falei mentira!!!”

A outra parte II

Após cerca de uma hora, e uma nova postagem no Facebook, PD voltou a contatar Uzeda para apurar eventual prisão por parte da Polícia Militar. “Pegaram meu endereço. Queriam me colocar algemado na cama, mas não algemaram.”.

Questionado sobre o motivo da publicação de tais mensagens no Facebook, Uzeda justificou, novamente, a revolta pela falta de médicos. O técnico em edificações, afirmou ainda que não esperava tal repercussão.

“Estou aqui desde quinta-feira e não apareceu ninguém. Os outros pacientes também estão sem prescrição médica. Então eu disse. Alguém tem que falar alguma coisa. Só não achei que fosse tão violento. Juro. Não falei com a intenção de dar no que deu.”, disse.

Investigação

Questionada sobre o episódio, por meio de nota a SES-DF repudiou o acontecimento e classificou como criminosa as publicações no Facebook e quer a investigação por parte da Segurança Pública.

“A equipe da Secretaria de Saúde foi surpreendida na noite de hoje com ataques aos servidores dessa instituição, feito nas redes sociais por uma pessoa desconhecida. O caráter da mensagem é claramente criminoso, pois, faz incitação e apologia ao ódio. A Secretaria de Saúde repudia manifestações de desapreço e de agressão aos seus colaboradores. A Secretaria de Segurança Pública já foi acionada para investigar e identificar o agressor. Temos certeza que a Justiça será feita e casos como esse não ficarão impunes.”.

Agressões

Ao PD, Vianna esclareceu que, por mais que se possa existir desespero por parte do paciente, o episódio que preocupou os servidores é extremamente sensível e deve acender alguns sinais de alerta.

“Nós tivemos o caso recente de adolescentes que, depois de tramarem nas redes sociais, entraram na escola em São Paulo e mataram oito pessoas entre estudantes e servidores. Na saúde, nós acompanhamos com frequência casos de agressões, inclusive um no hospital de Santa Maria semana passada. Nós temos problemas? Temos e creio que o governador está tentando resolver o caos que a saúde pública do DF se transformou. Mas, não podemos admitir, em hipótese alguma, que uma pessoa vá para as redes sociais fazer incitação a violência e apologia ao ódio, pelos problemas na saúde.

Criminalização dos servidores

Ainda segundo Vianna, “Nós assistimos, nos últimos quatro anos, uma tentativa de se criminalizar os profissionais de saúde que estão lá na ponta tentando garantir o atendimento à população. Mas, na prática, se há falta de profissionais de saúde, de medicamentos, insumos, de estrutura, isso ocorre por causa dos gestores, e vimos isso ao longo dos últimos anos. Então não podemos admitir que se jogue essa responsabilidade aos profissionais que estão atendendo na ponta. E, muito menos, que se utilize as redes sociais para esses tipos de incitações, principalmente, como essas que nós vimos. A pessoa está cometendo crime e deve ser responsabilizada.”, afirmou Vianna.

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