Por Kleber Karpov
O Brasil registra média de quatro internações por hora decorrentes do uso abusivo de álcool, conforme dados recentes do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa). O cenário, impulsionado pelo isolamento social durante a pandemia e por transtornos mentais não diagnosticados, foi analisado pelo psicólogo especialista em dependência química, Ivanildo de Andrade. Em entrevista ao programa Viver é Melhor, da Super Rede de TV e Rádio, Boa Vontade, o especialista discutiu os vetores desse aumento e a mudança no perfil epidemiológico dos pacientes.
Fatores de risco e consumo precoce
Para Andrade, o período pós-pandemia exacerbou quadros de ansiedade e depressão, o que levou muitos brasileiros a utilizarem o álcool como regulador emocional. Outro ponto crítico destacado é a experimentação precoce. Pesquisas indicam o primeiro contato com a substância por volta dos 10 ou 11 anos, frequentemente dentro do ambiente doméstico. O especialista alerta que a oferta de bebida a menores, mesmo em casa, configura crime e potencializa riscos futuros de dependência.
Vulnerabilidade feminina
O levantamento aponta também crescimento expressivo na dependência entre mulheres. De acordo com Andrade, fatores como dupla jornada de trabalho, pressão estética e marketing direcionado contribuem para essa estatística. Biologicamente, o organismo feminino sofre prejuízos clínicos mais rápidos e severos devido à menor produção da enzima responsável pela metabolização do álcool no fígado.
Critérios para internação
A hospitalização se faz necessária quando o paciente apresenta síndrome de abstinência grave, caracterizada por convulsões, delirium tremens ou risco iminente de autoagressão e violência contra terceiros. O tratamento, contudo, deve ir além da desintoxicação. A abordagem multidisciplinar precisa identificar e tratar comorbidades psiquiátricas, como depressão e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que muitas vezes subjazem ao vício.
O papel da família
A participação familiar é decisiva no processo de recuperação. Andrade reforça que parentes frequentemente desenvolvem codependência e também necessitam de suporte terapêutico. Sobre a possibilidade de recaídas, o psicólogo defende uma visão pragmática e não punitiva.
“A recaída não é por si só um fracasso, muito pelo contrário. Ela pode inclusive ser uma maneira do paciente aprender a lidar com aquilo que ainda precisa ser trabalhado, os gatilhos e os fatores de risco”, afirmou Ivanildo de Andrade.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










