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05 dez 2025 02:57

Collor, Lula, Temer e agora Bolsonaro somam um ineditismo político e jurídico que expõe as feridas da elite de poder do país; FHC é o único ex-presidente vivo a escapar da cadeia e de qualquer acusação formal

Por Gustavo Frasão

O Brasil acaba de alcançar um feito histórico — e incômodo. Com a inclusão de Jair Bolsonaro na lista de ex-presidentes da República com ordem de prisão ou já presos, o país se destaca no cenário global por ter, possivelmente, o maior número de ex-mandatários detidos ou condenados judicialmente por diferentes crimes, cometidos antes, durante ou após os mandatos.

Somam-se a Bolsonaro nomes como Luiz Inácio Lula da Silva, Michel Temer e Fernando Collor de Mello, todos já condenados ou presos em algum momento da história recente. O que chama atenção não é apenas a quantidade — quatro —, mas a variedade de acusações e o retrato que isso pinta das relações entre poder político e corrupção no país.

Por outro lado, Fernando Henrique Cardoso (FHC), presidente entre 1995 e 2002, é o único ex-presidente vivo que não sofreu impeachment, não foi investigado, denunciado ou preso. Mesmo alvo de críticas políticas e de protestos durante seu governo, FHC escapou das turbulências judiciais que atingiram os demais. Hoje, aos 94 anos, carrega a peculiaridade de ser a exceção entre os vivos: o último estadista brasileiro que não caiu nas malhas do sistema penal.

Collor: o início da derrocada

Fernando Collor de Mello, eleito em 1989 com o discurso do “caçador de marajás”, foi o primeiro presidente da Nova República e também o primeiro a sofrer impeachment. Em 1992, renunciou ao cargo para tentar escapar do processo, mas acabou inelegível por oito anos. Décadas depois, em 2023, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por envolvimento em esquemas ligados à Petrobras. Foi a primeira condenação criminal definitiva de um ex-presidente na história do STF.

Lula: prisão, reviravolta e retorno

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente entre 2003 e 2010, foi condenado em 2017 por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, no âmbito da Operação Lava Jato. Preso em 2018, ficou 580 dias na sede da Polícia Federal em Curitiba até ter sua condenação anulada pelo STF, que considerou o então juiz Sérgio Moro parcial no julgamento. Lula retornou à política e foi reeleito em 2022, em uma reviravolta política que ainda divide o país.

Temer: o breve encarceramento

Michel Temer, que assumiu a presidência após o impeachment de Dilma Rousseff, foi preso preventivamente em 2019, acusado de liderar um esquema de corrupção envolvendo contratos públicos, principalmente na área de energia nuclear. A prisão durou poucos dias, mas deixou sua marca. Ele ainda responde a processos, embora negue todas as acusações.

Bolsonaro: a nova face do colapso institucional

Agora, é Jair Bolsonaro quem enfrenta as garras da Justiça. Em agosto de 2025, o ex-presidente foi alvo de mandado de prisão domiciliar preventiva no âmbito da investigação que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado para reverter o resultado das eleições de 2022. A Polícia Federal o acusa de liderar uma organização criminosa com membros civis e militares para tentar impedir a posse do presidente eleito. A prisão — ainda que domiciliar — representa mais um abalo institucional e revela a gravidade das acusações que pairam sobre o ex-capitão do Exército.

Um recorde global

Não há registros de outro país democrático relevante com quatro ex-presidentes condenados ou presos. Em algumas nações, ditadores ou líderes autoritários foram responsabilizados por crimes graves — casos como o de Augusto Pinochet (Chile), Alberto Fujimori (Peru) ou Jacob Zuma (África do Sul). Mas nenhum desses países apresenta a sucessão de escândalos, prisões e investigações que o Brasil vem acumulando em menos de três décadas.

Na prática, isso mostra a trajetória de sucessivos ex-presidentes brasileiros que enfrentaram a Justiça — seja por corrupção, tentativa de golpe ou outros crimes — revela muito sobre o padrão de governança, accountability e impunidade seletiva no país. Se por um lado, mostra que ninguém está acima da lei, por outro, expõe as fragilidades institucionais de um sistema político onde o exercício do poder parece, com frequência, flertar com a ilegalidade. É a velha política mostrando que não é possível combater o sistema, porque todos fazem parte e são o sistema em si. As exceções são realmente poucas, raríssimas, talvez uma meia dúzia de dois ou três, como diria meu avô.

FHC talvez seja um ponto fora da curva, o único até aqui. Mas o restante do gráfico desenha uma democracia ainda em construção — marcada por rupturas, revezes judiciais e crises éticas profundas, com polaridades e extremismos que beiram a loucura. O slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, usado por Bolsonaro, revela-se uma ironia trágica. Porque, no fim, a democracia — com todas as suas falhas — precisa continuar acima de todos eles.


Gustavo Frasão
Jornalista


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