Por Kleber Karpov
O compartilhamento de notícias e opiniões sobre política diminuiu significativamente nos grupos de WhatsApp no Brasil, conforme revelou o estudo “Os Vetores da Comunicação Política em Aplicativos de Mensagens”, divulgado nesta segunda-feira (15/Dez). A pesquisa, realizada pelo InternetLab e pela Rede Conhecimento Social com 3.113 pessoas, constatou que 56% dos entrevistados sentem receio de se expressar. O principal motivo é a percepção de que o ambiente de debate virtual está “muito agressivo”, o que leva os usuários à autorregulação.
O levantamento identificou uma queda na frequência de mensagens sobre política, políticos e governo nos grupos de família, amigos e trabalho entre os anos de 2021 e 2024. Nos grupos familiares, a proporção de pessoas que reportavam ver mais notícias do tema caiu de 34% em 2021 para 27% em 2024.
A redução foi ainda mais acentuada nos grupos de amigos, onde o percentual de menções a política declinou de 38% para 24% no período analisado. Nos grupos de trabalho, a frequência de debate político também recuou de 16% para 11%. Apenas 6% dos entrevistados afirmaram participar de grupos específicos para discussões políticas, número inferior aos 10% registrados em pesquisa realizada em 2020.
Receios
O receio de emitir opiniões sobre política é o principal fator apontado para a redução no engajamento, com 56% dos respondentes relatando essa percepção. Entre os entrevistados que se consideravam de esquerda, 63% manifestaram o medo. O índice atingiu 66% para os que se consideram de centro e 61% para os de direita.
A sensação de hostilidade motiva a adoção de condutas para evitar conflitos. Os dados demonstram que 52% dos participantes se policiam cada dia mais sobre o que dizem nos grupos. Adicionalmente, 50% evitam falar de política no grupo da família para fugir de brigas.
“Evitamos falar sobre política. Acho que todos têm um senso autorregulador ali, e cada um tenta ter bom senso para não misturar as coisas”, disse uma mulher de 50 anos, de São Paulo.
Cerca de dois terços (65%) dos participantes afirmam evitar compartilhar mensagens que possam atacar os valores de outras pessoas, segundo o levantamento. “Acho que os ataques hoje estão mais acalorados. Então, às vezes você fala alguma coisa e é mais complicado, o pessoal não quer debater, na verdade, já quer ir para a briga mesmo”, afirmou uma mulher de 36 anos, de Pernambuco.
Amadurecimento no uso
Os autores do estudo identificam a consolidação de condutas para prevenir desentendimentos, o que sugere um amadurecimento no uso do aplicativo. A diretora do InternetLab, Heloisa Massaro, afirmou que as pessoas desenvolveram “normas éticas próprias para lidar com essa comunicação política no aplicativo”, especialmente nos grupos.
Massaro constata que o WhatsApp é uma ferramenta “arraigada” no cotidiano. Por isso, assim como no mundo presencial, o assunto política faz parte das interações. Dos respondentes, 29% já saíram de grupos onde não se sentiam à vontade para se expressar.
Entretanto, o estudo aponta que 12% dos entrevistados compartilham algo considerado importante mesmo que possa causar desconforto. Entre os 44% que se consideram seguros para falar sobre política, as estratégias incluem usar humor (30%), falar no privado (34%) ou apenas discutir em grupos de alinhamento ideológico (29%).
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.











