Por Kleber Karpov
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, anunciou nesta quarta-feira (13/Ago), a revogação de vistos de autoridades do Ministério da Saúde (MS) . A medida, atinge membros da atual gestão do governo federal e de ex-servidores de organismos internacionais, a exemplo da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Rubio acusa autoridades, sem apresentar provas, de cumplicidade com a exploração de médicos cubanos. O republicano se utilizou de retórica sobre o programa “Mais Médicos”, amplamente utilizado no ser instrumento de trabalho forçado do regime cubano.
Entre os novos sancionados pelo governo norte-americano estão o atual secretário de Atenção Especializada à Saúde do MS, Mozart Julio Tabosa Sales e; o ex-assessor de Relações Internacionais do MS e ex-diretor de Relações Externas da OPAS
Alberto Kleiman.
Retaliação diplomática
A revogação de vistos, detalhada em comunicado do governo dos EUA, referencia a suposta cooperação com a “ditadura” de Cuba. Na concepção indicada por Rubio, o governo brasileiro teria burlado sanções internacionais, por intermédio da OPAS. No comunicado, Rubio classifica o Mais Médicos um “golpe diplomático inconcebível de ‘missões médicas’ estrangeiras”.
Importante ressaltar que a postura da atual gestão do governo estadunidense, sob comando de Donald Trump, é de confrontar governos considerados alinhados a regimes de esquerda na América Latina.
“A medida é também um recado inequívoco: nem ministros, nem burocratas dos escalões inferiores, nem seus familiares estão imunes. Mais cedo ou mais tarde, todos os que contribuírem para sustentar esses regimes responderão pelo que fizeram — e não haverá lugar para se esconder”, disparou Rubio no comunicado.
Comemoração
As sanções foram comemoradas por parte do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), residente nos EUA, desde março desse ano, para onde se estabeleceu com finalidade de atuar diretamente na Casa Branca e no legislativo norte-americano sanções ao governo e judiciário brasileiros.

Na rede social X (Antigo Twitter), o deputado expressou apoio à medida de Rubio, reforçando a narrativa de combate ao comunismo. Em outra ocasião, ao celebrar a revogação de vistos de outras autoridades, o deputado se manifestou com tom de ameaça.
“Eu não posso ver meu pai e agora tem autoridade brasileira que não poderá ver seus familiares nos EUA também – ou quem sabe até perderão seus vistos. Eis o CUSTO MORAES para quem sustenta o regime. De garantido só posso falar uma coisa: tem muito mais por vir!”.
Reação
Questionado, após o anúncio das sanções, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, lembrou que o programa salva vidas e deve sobreviver a quaisquer tipos de ataques. “O Mais Médicos, assim como o PIX, sobreviverá aos ataques injustificáveis de quem quer que seja. O programa salva vidas e é aprovado por quem mais importa: a população brasileira. Não nos curvaremos a quem persegue as vacinas, os pesquisadores, a ciência e, agora, duas das pessoas fundamentais para o Mais Médicos na minha primeira gestão como Ministro da Saúde, Mozart Sales e Alberto Kleiman.[…] Nesse Governo atual, em 2 anos, dobramos a quantidade de médicos no Mais Médicos. Temos muito orgulho de todo esse legado que leva atendimento médico para milhões de brasileiros que antes não tinham acesso à saúde. “, postou nas redes sociais.
Sanção ideológica
As sanções do governo norte-americano, no que tange ao Mais Médicos acabam por demonstrar uma ação meramente ideológica para com o governo brasileiro. Um paradoxo, que começou a ser questionado nas redes sociais é: por que Trump deixou de punir, por exemplo, a Italia, por manter relação de cooperação com Cuba, uma vez que o país também contratou médicos cubanos. Acaso, em decorrência de a primeira ministra italiana, Giorgia Meloni ser ideologicamente alinhada com Trump?
Atualmente, aproximadamente 500 profissionais médicos atuam em países europeus, a exemplo de Bérgamo, Calábria e Polistena na Italia. Andorra e Portugal também registram a atuação desses profissionais de saúde.
Mais Médicos
Criado em 2013, durante o governo da então presidente Dilma Rousseff, por meio da Medida Provisória nº 621. O principal objetivo era ampliar a oferta de médicos na Atenção Primária à Saúde (APS), com foco em regiões de extrema pobreza, áreas rurais e periferias de grandes cidades, onde a carência de profissionais era mais crítica.
O programa original recebeu médicos brasileiros e foi complementado e marcado com a vinda de milhares de médicos cubanos por meio de um convênio com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o que gerou intensa controvérsia política e corporativa.
Em 2019, o então presidente, Jair Messias Bolsonaro (PL/RJ), viu Cuba deixar o acordo e acabou por lançar o Mais Médicos pelo Médicos pelo Brasil, com prioridade à seleção de profissionais brasileiros. Com a eleição de Lula, em 2023, o programa original foi retomado, sob o nome Mais Médicos Brasil foi retomado, porém, com foco em contratação de médicos brasileiros.
Relatórios do MS indicam que o número de profissionais ativos já ultrapassa a marca de 26 mil médicos a atuar na APS em todo país.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










