Por Kleber Karpov
Pela primeira vez desde 2020, o avião superou o ônibus como principal meio de transporte coletivo em viagens no Brasil. A informação é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) Turismo 2024, divulgada pelo IBGE, mostrando que 14,7% dos deslocamentos realizados no país em 2024 foram feitos por avião, contra 11,9% por ônibus. O carro particular, contudo, segue como o modal predominante. O fato de o avião superar o ônibus é um sinal paradoxal da desigualdade: as pessoas mais ricas voam cada vez mais, enquanto o ônibus, historicamente o transporte do povo, perde espaço.
O levantamento revela que, em 2024, foram realizadas 20,6 milhões de viagens no território nacional, número estável em relação ao ano anterior, mas com uma recuperação simbólica da aviação civil. O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, atribuiu este resultado às políticas públicas para ampliar a conectividade e democratizar o acesso ao transporte aéreo.
“Com mais conectividade, tarifas acessíveis e infraestrutura adequada, a aviação civil brasileira avança não apenas como um meio de transporte, mas como vetor de integração nacional, que eleva o turismo, aumenta os negócios e gera empregos e oportunidades”, afirmou o ministro, ignorando que o aumento da renda é um fator mais expressivo que as ações do próprio ministério.
Fatores impulsionam aviação
A preferência pelo avião está ligada a um conjunto de fatores. O primeiro é o crescimento de 4,7% na renda média do trabalho em 2024, segundo o IBGE. Este aumento da capacidade de consumo permitiu a mais famílias optar pelo modal aéreo, especialmente em viagens de lazer e negócios de longa distância.
Outro elemento é a mudança no perfil das viagens. Em 2024, a proporção de deslocamentos a trabalho aumentou, representando 28,8% do total. Viagens a trabalho tendem a privilegiar o avião, buscando rapidez e otimização do tempo. No lazer, o avião ganhou espaço diante da busca por destinos mais distantes, impulsionada pelo crescimento do turismo cultural e gastronômico. Por fim, a aviação se tornou mais atrativa em relação ao ônibus em longos percursos, oferecendo economia de tempo e maior comodidade.
O avanço da aviação também está atrelado a medidas do Ministério de Portos e Aeroportos para criar um ambiente favorável às empresas aéreas, com o objetivo de reduzir custos e aumentar a oferta de voos. Entre as ações está o acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para reduzir a judicialização no setor aéreo.
O Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC) é outro instrumento citado pelo Mpor, que em 2025 terá R$ 4 bilhões disponíveis para financiar projetos, condicionados ao aumento da frequência de voos em aeroportos regionais. Além disso, o programa AmpliAR é conduzido para modernizar e expandir aeroportos regionais, permitindo que cidades médias e pequenas tenham acesso a voos regulares.
Um fator crucial para o setor, embora não seja uma ação direta do Ministério de Portos e Aeroportos, é a redução contínua nos custos do querosene de aviação (QAV). A queda no QAV, que representa cerca de 40% das despesas operacionais das companhias, contribui para aliviar a estrutura de custos do setor e amplia as condições para tarifas mais acessíveis.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










