Celina Leão se manifesta sobre segurança pública e a urgência do Consórcio da Paz

Por Kleber Karpov

A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (Progressistas), defendeu a união dos estados no Consórcio da Paz — acordo de ação conjunta entre governos — em entrevista ao Correio Braziliense (CB), nesta terça-feira (4/Nov), ao argumentar que a segurança pública brasileira enfrenta um “descompasso” estrutural perante o crime organizado sofisticado. A declaração da Leoa, como é conhecida, ocorreu após a participação, em 29 de outubro, de reunião de governadores, no Rio de Janeiro, que fazem oposição ao governo federal, em apoio ao governador Cláudio Castro (PL/RJ), um dia após a operação policial, nos complexos do Alemão e da Penha, com um saldo de 121 mortes, desses 4 policiais.

Defasagem no combate ao crime

Celina Leão ressaltou que as forças de segurança trabalham com instrumentos defasados se comparados ao nível de sofisticação dos grupos criminosos e enfatizou que o crime organizado transcendeu o modelo dos anos de 1970 e 1980. A gestora argumentou que os criminosos atualmente atuam em todos os segmentos da sociedade, com forte atuação na prática de lavagem de dinheiro. “O crime organizado hoje, ele passa por lavagem de dinheiro, ele está em todos os segmentos da sociedade, inclusive causando um prejuízo enorme”, afirmou.

De acordo com Celina Leão, o crime concorre de forma desleal com os empresários que tentam empreender. “Esse descompasso faz com que a gente não tenha instrumentos para enfrentar o crime organizado”, disse ao observar a importância da implementação do Consórcio da Paz.

Consórcio da Paz

Ao detalhar a visão que a levou a apoiar a iniciativa de o DF participar do Consórcio da Paz, está a necessidade de agilidade. Segundo Celina Leão, a troca de informações entre as polícias estaduais é fundamental.

“O Consórcio da Paz, eu acredito que ele pode trazer essa agilidade em troca de informação. Vocês imaginam, hoje o nosso Banco de Dados da Polícia Civil é nosso, mas você não sabe quais são os bandidos aqui do Estado de Goiás. Eles atravessam a fronteira, chegam aqui, se você pesquisar no nosso sistema da Polícia Civil, então essa cooperação de dados, um Banco de Dados único, desde aquelas pessoas que estão praticando delitos, àquelas que estão ligadas a facções criminosas, a tipo de padronização de atendimento dentro dos presídios”, disse Celina Leão.

Conforme a gestora, o Consórcio da Paz deve trazer esta agilidade na troca de informações e na padronização de ações. Ela classificou a união como uma grande oportunidade e que o ideal é que seja  ampliou o escopo da discussão, dizendo que a ação coordenada é um momento para haver adesão de governadores do país inteiro.

“Por isso que eu defendo a participação de todos os governadores. Você politizar um tema como esse é um tema muito preocupante. A gente politiza um tema como esse. A segurança pública, quando ela afeta uma pessoa, ela não pergunta se ela é do Partido A ou do Partido B. Quando uma bala pega na cabeça de uma menina, como aconteceu essa semana, quando o crime organizado chega na porta da sua casa, ele não te pergunta de qual partido você é.”, afirmou Celina Leão.

Em relação à finalidade do Consórcio, a proposta é que o grupo atue na integração de contingente, inteligência e apoio financeiro. O objetivo do Consórcio, defendido pelo Governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), e apoiado por outros líderes estaduais, é criar uma força-tarefa capaz de fazer frente à escalada da violência urbana e do narcoterrorismo no Brasil. A percepção final, segundo Leão, é de que “quem está preso é a população”, concluindo a afirmação sobre a urgência de ação coordenada entre os estados.

Propostas para o sistema prisional

Celina Leão destacou a urgência de uniformizar as ações nos presídios, pois as ordens do crime organizado continuam sendo emanadas de dentro do sistema carcerário. A Vice-Governadora reforçou que o país não pode permitir que o crime organizado persista nas cadeias.

A visão estratégica da Leoa inclui medidas mais restritivas para faccionados. “O criminoso faccionado, ele não pode ter direito à visita íntima. Ele é faccionado, ele não pode ter direito a estar falando com o advogado dele sem ter um monitoramento. São dentro das cadeias que está se dando as ordens de dentro dos presídios. Isso precisa de ter uma visão estratégica. ”, detalhou Leão, sobre as medidas necessárias.

Encontro entre governadores

A vice-governadora observou ao CB que o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), deve se reunir, nos próximos dias com os demais governadores de todo país, ocasião em que deve propor aos demais chefes dos Executivos estaduais, a adesão ao Consórcio da Paz.

“Acho que vai ter uma reunião aqui na semana que vem com todos os governadores sobre várias pautas. E com certeza uma das pautas será essa do Consórcio. Eu acho que a maturidade, para se construir uma coisa positiva com todos os 27 governadores.”, explicou Celina Leão, ao observar que “esse é o passo 01, que eles vão tentar dar espaço na semana que vem. E também tem uma reunião com o Hugo Mota [deputado federal(Republicanos-AC), presidente da Câmara dos Deputados], com os governadores, com o Consórcio, com o Fórum dos Governadores.”, concluiu Celina.