Por Kleber Karpov
Nesta semana, o senador Izalci Lucas (PL-DF) anunciou a intenção de criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com base em um dossiê que circula no Senado Federal sobre o Banco Master do banqueiro Daniel Vorcaro. O documento, produzido por agentes do mercado financeiro, serviu de base ao parlamentar, ao apresentar aos colegas como justificativa operações consideradas “ortodoxas”. Ao todo, Lucas chegou a obter nove das 27 assinaturas necessárias dentre os 81 senadores para investigar a proposta de compra de parte dos ativos do Master pelo Banco de Brasília (BRB).
Conforme reportagem da Veja (13/Abr)(Veja Aqui), aos colegas senadores, Lucas questionou a operação recente e “não ortodoxa” do Banco Master, em relação a negociação de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com pagamento de 140% da taxa do CDI com comprometimento de quase a metade dos recursos do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), e as recentes tentativas de “dividir com os contribuintes os riscos e prejuízos do banco” o que segundo o senador, impõem ao Senado o “dever de investigar imediatamente esses fatos com potenciais riscos ao sistema financeiro nacional”.
Dossiê do ‘mercado’…
Estranhamente, os encaminhamentos de Izalci Lucas, levantam questionamentos nos bastidores políticos do DF, em relação a iniciativa do parlamentar, dentre esses: Esse ‘mercado financeiro’ a produzir esse dossiê será o mesmo ‘mercado’ com uma taxa de erro de 95% sobre previsões da política econômica relacionadas as atividades econômicas do governo federal, conforme apontou reportagem do UOL, recentemente?
Esse mesmo mercado financeiro, que questionou a não ortodoxia de Vorcaro é o mesmo que sempre afirmou que o empresário era agressivo, nos negócios?
Por que, até vir a público a aquisição do Master por parte do BRB, esse mesmo ‘mercado’, aparentemente crítico a forma agressiva de condução do banco, ao que tudo indica, não fez denúncias fosse ao Banco Central (BC), ou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ou ainda ao Comissão de Valores Mobiliários (CVM), isso pelas negociações de títulos CDBs com margem de lucros de 140% amparadas pelo FGC?
Mais que isso, esse é o mesmo ‘mercado’ da Faria Lima que passou a demonstrar interesse em fazer aquisição do ativos do Banco Master, após vir a público, conforme apontado pela Agência Brasil (Veja reportagem de PDNews)(12/Abr), que a instituição financeira estava a operar com margem de lucro de R$ 1 bilhão. Valor esse, mais que o triplo dos R$ 282 milhões anunciados pelo BRB?
Sobrevivência política
Se soma aos questionamentos sobre o ‘mercado’, especulações sobre o futuro político do parlamentar também bateram à porta da classe política e da imprensa, a começar, com a saída abrupta de Lucas, em março de 2024, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), com ingresso ao Partido Liberal (PL), algo interpretado como uma tentativa de o político capitalizar votos da direita para as eleições majoritárias de 2026.
Porém, tal iniciativa foi considerado por muitos um ‘tiro que pode sair pela culatra’, pois uma vez no PL, em eventual reeleição ao Senado, Lucas tem praticamente fica sem chances de disputar os votos da direita. Sobretudo após confirmação de o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), a disputar uma das duas vagas pelo grupo político que agrega ainda partidos como o Republicanos e Progressistas. Isso com a segunda vaga, ao que tudo indica, reservada à Michele Bolsonaro, do próprio PL. E em eventual, disputa ao GDF então, nem se fala, dado o favoritismo da vice-governadora do DF, Celina Leão (PP), a substituir Rocha na gestão do DF a partir de 2027.
Botão do pânico e saída à esquerda?
Conforme bem ponderou reportagem de Diário do Poder (17/Abr)(Veja Aqui), sob o risco de cair no ostracismo político, Lucas parece ter apertado o botão do pânico e pode ter dado ‘seta à esquerda’.
“Sem figurar em qualquer lista de candidatos com chances de êxito para cargos majoritários em 2026, o senador Izalci Lucas (PL-DF) parece ter acionado o “botão de pânico” e, depois de transitar da meia-esquerda do PSDB à ponta direta do PL, ao qual se encontra filiado, voltou a flertar com políticos de esquerda.[…] Por essa razão, Izalci tenta se associar a políticos de esquerda no Distrito Federal, derrotados em seguidas eleições, para tentar promover o desgaste do grupo liderado por Ibaneis, apoiando a criação de uma CPI para investigar a compra do Banco Master pelo BRB, que nem sequer ainda foi consumada.”, aponta a reportagem.
Coelho da Cartola?
Será a aquisição de parte dos ativos do BRB, uma espécie de Coelho na cartola de Lucas para tentar capitalizar politicamente, ao que aparentemente pode ser, conforme publicou PDNews, uma forma de colocar o “BRB entra no olho do furacão, das especulações, após aquisição do Banco Master” (31/Mar)? Se o for, Lucas pode se tornar mais uma vítima de fake news ou especulações, seja do mercado ou eventualmente de parte da própria esquerda.
Dispositivos Legais
O processo de aquisição de parte dos ativos do Master é auditado internamente por parte da KPMG. O BRB por sua vez conta com auditoria independente da Ernst & Young, além de escritórios de advocacia, para garantir a legalidade e segurança a investidores, clientes e à sociedade. Negociação essa, passível de efetivação somente com o endosso do BC e do Cade.
Por esse prisma, o senador com uma série de outros dispositivos legais, a exemplo do requerimento de informações ou realização de audiência pública, cogitado por Lucas, precisava realmente tentar ‘cavar’ uma CPI, com base em dossiê do ‘mercado’?
Vale lembrar, para além de dossiê a circular pelo Senado, ao vir a público compra do Master pelo BRB foi rapidamente começaram a surgir rumores estranhos, a exemplo da proposta de compra do Master, simbolicamente por R$ 1, por parte do banco BPG Pactual. Fake news essa, amplamente propagada por pretensos candidatos ao GDF e ao Senado, a exemplo de Ricardo Capelli. Informação essa, desmentida pelo CEO da BPG, André Esteves, em ofício encaminhado à CVM, caso amplamente divulgado pela imprensa brasileira.
Operação Circus Maximus

Agora uma pergunta que, com a ação de Lucas começa a ganhar repercussão política é, onde estava o senador, em 29 de janeiro de 2019, quando a Polícia Federal (PF) deflagrou a operação Circus Maximus, para apurar suposto esquema de pagamento de propina de R$ 16,5 milhões, a então diretores e ex-diretores do BR em troca de investimentos em projetos como o do extinto Trump Hotel, no Rio de Janeiro, atualmente conhecido como LSH Lifestyle.
Vale lembrar que embora a ação penal tenha sido ‘trancada’ pela Justiça Federal, procuradores do Ministério Público Federal (MPF) chegou a denunciar 17 pessoas por crimes contra o sistema financeiro, corrupção, lavagem de dinheiro, gestão temerária. Operação essa responsável por levar outras 13 pessoas, entre diretores do BRB e empresários, presos pela Polícia Federal (PF)(Jan/2019). Dentre essas, o ex-presidente Vasco Cunha Gonçalves, nomeado pelo ex-governador, atual deputado federal, Rodrigo Rollemberg (PSB).
Esquema esse que causou prejuízo estimado em R$ 348 milhões provocado por operações questionáveis, além de acusação, por parte do MPF, de servidores da entidade financeira ter recebido aproximadamente R$ 40 milhões em propina para liberar investimentos em empreendimentos imobiliários.
Não por outro motivo, tanto Rocha quanto Celina Leão, sempre ao serem confrontados com tentativas de se questionar a gestão do BRB costumam ser categóricos ao afirmar que o governador tirou o BRB das páginas policiais e passou a instituição às manchetes de editoria de economia e finanças dos principais veículos de imprensa do país.
Casos esses em que um político da cúpula do GDF, sob sigilo de identidade, questionou ao PDNews. Você viu o senador falar em CPI ou requerer informações?
Números do BRB
Em tempo, reportagem da Folha intitulada ‘BRB tem lucro recorrente de R$ 282 milhões em 2024, crescimento de 41%’ (10/Abr)(Veja Aqui) assinada pelo jornalista Fabio Pupo, ajuda a desmistificar, a partir de números, a tentativa de desqualificação da gestão do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, a frente da instituição desde o início da gestão de Rocha.
Segundo a reportagem, o lucro do BRB em 2024, foi 41% maior que o mesmo período do ano anterior, com apresentação de crescimento da carteira de crédito em 20,2% (R$ 43,1 bilhões), puxada pelo segmento imobiliário, em valores absolutos com avanço de 29,7% (R$ 12 bilhões).
O banco elevou anda a carteira de clientes em 17,4% para 9 milhões de correntistas, apenas com a parceria com o Flamengo, aumentou e, 3,7 milhões de pessoas, equivalente a 41% do total.
O banco mostrou ainda boa liquidez no segmento de seguridade “com lucro líquido de R$ 121,4 milhões” e queda na inadimplência de 1,32% em 2024 contra 2,25% em 2023.
