Por Kleber Karpov
Uma nova fábrica de mosquitos inaugurada em Campinas (SP), na última quinta-feira (02/Out), disponibiliza duas tecnologias complementares para combater a dengue e suprimir as populações do Aedes aegypti. O complexo da Oxitec Brasil, com capacidade para produzir até 190 milhões de ovos de mosquitos por semana, pode proteger até 100 milhões de pessoas anualmente, em uma resposta direta ao apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) por inovação no controle de vetores.
A instalação entra em operação em um momento de casos recordes de dengue na América Latina. Aguardando a aprovação final da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a fábrica está pronta para fornecer mosquitos com a tecnologia Wolbachia ao governo a tempo do início da temporada de maior proliferação no Brasil. A unidade também produz a linha Aedes do Bem, capaz de reduzir em 95% as populações do mosquito em áreas urbanas.
Duas tecnologias
Ambos os métodos funcionam com a liberação de mosquitos em áreas urbanas, mas com objetivos distintos. A tecnologia Wolbachia, já reconhecida pela OMS e adotada pelo Ministério da Saúde, atua como uma “vacina” para os mosquitos. “A Wolbachia é uma bactéria que está presente naturalmente em mais de 60% dos insetos, mas não no Aedes aegypti. A bactéria se reproduz onde o vírus se reproduziria, impedindo o vírus de replicar”, explicou a diretora-executiva da Oxitec Brasil, Natalia Verza Ferreira. “Quando uma fêmea com a Wolbachia acasala com um macho do ambiente, toda a descendência desse cruzamento vai ter a bactéria Wolbachia e não vai conseguir transmitir dengue, zika, chikungunya”.
Já o Aedes do Bem foca na supressão populacional. Nesse caso, machos são soltos no ambiente para acasalar com as fêmeas selvagens, que são as responsáveis pela picada. “Os descendentes desse ‘casal’ serão apenas machos e todas as fêmeas morrem. É como se fosse um larvicida fêmea específico, porque as fêmeas morrem na fase larval. O Aedes do Bem faz um controle da população”, disse Natalia.
Protocolo de aplicação
As duas tecnologias não podem ser aplicadas simultaneamente. A recomendação de especialistas é usar primeiro o Aedes do Bem para reduzir drasticamente o número de mosquitos e, em seguida, introduzir a Wolbachia para tratar a população residual. “A recomendação dos especialistas é a de que se faça primeiro a supressão da população com o Aedes do Bem e logo em seguida a Wolbachia para vacinar esses mosquitos que sobrarem e eles não conseguirem transmitir as doenças”, ressaltou a diretora.
O protocolo consiste em usar o Aedes do Bem durante a temporada de chuvas e calor, de outubro a maio. Dois meses após o fim desse período, inicia-se a liberação da Wolbachia, que dura entre nove e 15 semanas. Natalia Verza destacou que as tecnologias foram colocadas à disposição do Ministério da Saúde como políticas públicas.
Sobre a regulação, o secretário adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Fabiano Pimenta, afirmou que novas tecnologias como a Wolbachia estão em um processo provisório até 2027. “Vamos discutir como regular essa questão. Estamos aqui enquanto ministério dizendo que é uma das nossas prioridades”, declarou.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










