Por Kleber Karpov
Com os desfechos em relação aos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023, que se encaminham para o ex-presidente, Jair Messias Bolsonaro (PL/RJ) sentar no banco dos réus como principal articulador e beneficiário da tentativa de golpe de Estado, nessa semana, um apontamento da Procuradoria-Geral da República (PGR), pode dar um novo ar ao Distrito Federal. O procurador-geral, Paulo Gustavo Gonet Branco, defendeu no Supremo Tribunal Federal (STF), o arquivamento da investigação contra o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). Decisão essa que deve ser tomada pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Gonet foi categórico ao afirmar a participação e omissão das forças de segurança do DF, segundo relatórios da Polícia Federal (PF), apontou “omissão e conivência criminosa por parte das autoridades e dos agentes das forças de segurança pública”. Porém, o PGR foi enfático que os fatos até o momento investigados não corroboram com eventual participação de Rocha nos atos golpistas.
“Esgotadas as diligências viáveis e sem outra linha investigatória idônea, a partir dos elementos de informação produzidos até o momento, os fatos relatados não revelam justa causa hábil a autorizar o prosseguimento da persecução penal contra Ibaneis Rocha Barros Júnior”, afirmou Gonet.
O PGR fez questão de ressaltar ainda o comparecimento voluntário de Rocha sede da Polícia Federal e, com consentimento para acesso amplo, enviou dois aparelhos celulares que se encontraram em sua posse”. Explicou que análises de computadores do chefe do Buriti revelou cópias de documentos em que repudiou os ataques e da solicitação da Força Nacional, além de observar que os dispositivos eletrônicos do governador apontou atuação proativa da interlocução com autoridades e a tomada de providências. Foram localizadas 36 ligações no período.
Mas, para Lula…
À época dos acontecimentos, tal episódio, para além de reforçar algo que Rocha sempre apontou, não ser bolsonarista, portanto sem razão para ser partícipe de uma tentativa de golpe de Estado, também tem um símbolo especial à população do DF, no que tange a rusga do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), desde a invasão dos Três Poderes, categórico em responsabilizar, ou colocar Rocha na condição de um dos responsáveis pelas ações de tentativa de derrubada do governo legitimamente eleito e do Estado Democrático de Direito.
Vale observar que por mais de uma vez o chefe do Palácio do Planalto, em manifestações públicas, atribuiu tal responsabilidade ao governador do DF, a exemplo da entrevista ao jornal O Globo (5/Dez/23), em que Lula disse que “havia na verdade um pacto entre o ex-presidente da República [Jair Bolsonaro], o governador de Brasília [Ibaneis Rocha] e a polícia, tanto a do Exército quanto a do DF [Distrito Federal]”, além de mencionar a participação, também, de policiais federais. Ou ainda nas declarações realizadas no documentário da GloboNews “8/1: A Democracia Resiste”, produzido pelos jornalistas Julia Dualib e Rafael Norton, em que Lula afirmou: “Não tem outra coisa a fazer se não prender esse governador [Ibaneis Rocha]”.
Retaliações?
Sob essa ótica, por mais de uma vez, o governador do DF, reclamou do tratamento ‘nada amistoso’, por parte do governo federal, em relação a gestão do Distrito Federal. Situações essas que puderam ser refletidas por Rocha, em especial, em relação as duas tentativas de mudanças em relação ao Fundo Constitucional do DF (FCDF). A mais recente, em 2024, de alteração do indexador que reajusta o FCDF, da retirada do DF, movimentação essa que poderia resultar em uma perda anual de receita estimada em aproximadamente R$ 800 milhões. Para o secretário, ao longo de R$ 12 bi, ao longo de 15 anos.
Outros episódios, segundo percepção da cúpula do Buriti, de ações vinculadas ao Planalto em relação a possível tentativa de inviabilizar, por intermédio do Banco Central (BC), a gestão do Banco de Brasília (BRB) sob gestão de Paulo Henrique Costa, e mais recentemente do anúncio, por parte da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), do reajuste de 2,91% no valor das passagens de ônibus que fazem o trajeto entre Brasília e os municípios do Entorno do DF.
Relação de respeito
Dado o parecer de Gonet e, em caso de decisão favorável por parte de Moraes, no que tange a isenção de responsabilidade de Rocha na tentativa de golpe de Estado, resta saber se Lula, que frequentemente aclama o respeito à ampla defesa e às decisões do Judiciário e com isso equalizar a relação de respeito para com o governador do DF. Tal qual dispensa a tantos opositores, a exemplo do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas.

Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.