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25 mar 2025 11:34

Política econômica do governo federal reflete zelo, medo dos erros ou das especulações do ‘mercado’?

Ex-deputado estadual paranaense, Tony Garcia, critica intenções da política econômica praticada por Haddad além de sugerir alinhamento de ministro da Fazenda com 'donos' do mercado

Por Kleber Karpov

O ex-deputado estadual paranaense, Tony Garcia, utilizou a rede social X (ex-Twitter)(8/Fev), para questionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, “apontar erros” a serem corrigidos com “potencial para levá-lo à ruína”. Garcia classificou de hipocrisia, a condução da política econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT/SP). Além de confrontar posições em relação a gestores do Banco Central (BC).

Em um texto longo, Garcia traz questionamentos ao presidente, sobre a manutenção das diretrizes estabelecidas pelo ex-presidente do BC, Campos Neto, indicado pelo ex-chefe do Executivo, Jair Messias Bolsonaro (PL-RJ), pelo atual mandatário do BC, Gabriel Galípolo que, conforme Garcia, se soma a “toda a diretoria do BC” como indicações de Lula e de Haddad. 

Por trás das críticas está a manutenção do aumento das Taxa Selic, em 1% na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom)(29/Jan), que passou de de 12,25%, para 13,25%. Percentual esse que deve ultrapassar os 15% com os próximos aumentos, estabelecidos em 1% e 1,5% ainda por Campos Neto antes de entregar o cargo, no final de 2025. Reajustes esses que podem ocorrer nos meses de março e maio nos próximos encontros  do Copom.

Diante desse contexto, em que o Copom manteve as definições estabelecidas por Campos Neto, Garcia questiona se “as críticas à Campos Neto eram apenas cortinas de fumaça como essa do consignado anunciado por Haddad para desviar o foco de seu apoio à subida dos juros?”.
Isso ao apontar que “a política errática de Haddad está no epicentro do terremoto que atinge a popularidade de Lula e seu governo como nunca visto antes”. Isso ao questionar a política de inclusão de Lula e expor o impacto das decisões do ministro da Fazenda em relação as camadas mais vulneráveis da população brasileira.
Confira a postagem na íntegra:

Importante ressaltar que em entrevista a GloboNews (5/Fev), Haddad afirmou que os efeitos da alta da taxa Selic sobre a inflação devem ser percebidos “mais rápido” do que o esperado. “O choque de juros foi muito forte, então a resposta [sobre a inflação] virá mais rapidamente, e penso que poderemos ter uma acomodação mais rápida [dos preços]”, disse.

Arapuca

Sobre o questionamento de Garcia, ao longo da semana a questão já estava respondida por Lula, em entrevista às rádios Metrópole e Sociedade, da Bahia, na quinta-feira (6/Jan), ocasião em que preservou a imagem de Galípolo e criticou Campos Neto. O chefe do Executivo foi taxativo ao dizer que o ex-presidente do BC “deixou uma ‘arapuca’”, em referência aos novos aumentos da taxa Selic para esse ano.

“O problema sério é que tivemos um aumento do dólar porque a gente teve um Banco Central totalmente irresponsável, que deixou uma arapuca que a gente não pode desmontar de uma hora para a outra. A gente não pode dar um cavalo de pau em um navio do tamanho do Brasil”, disse Lula.

Contradição

Porém, na publicação no X, no questionamento ao presidente, Garcia referencia um artigo do articulista Jeferson Miola, intitulado Haddad diz que juros altos podem “inibir alta de preços”; o Nobel Stiglitz diz que condenam economia à “pena de morte”“, publicado no sábado, 8 de fevereiro, no Portal Brasil 247. Nele, Miola aponta mudanças de posicionamentos de Haddad, no antes e pós-gestão de Campos Neto.

Posição na gestão de Campos Neto

“Você não vai corrigir a inflação de 2024 aumentando o juro. Você tem que ver a trajetória da inflação ao longo dos meses para saber qual é o remédio adequado para conter eventualmente preços”, declarou Haddad em entrevista em agosto de 2024 reagindo à elevação da taxa de juros para 10,5% no mês anterior. 

Posição na gestão de Galípolo

Mas agora, com Gabriel Galípolo liderando a maioria da direção do Banco Central indicada pelo governo Lula, Haddad matizou seu entendimento: –“o remédio para corrigir a inflação é, muitas vezes, aumentar a taxa de juros para inibir a alta de preços”, disse ele em entrevista recente [7/2/2025].

Haddad na contramão

Nova posição essa, de Haddad, em que Miola aponta seguir caminho oposto a opinião do prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, “aumentar as taxas de juros não resolve os problemas do lado da oferta”, isso porque além de não influenciar na queda de preços, por exemplo, de alimentos e combustíveis, ainda pode ter efeito contrário por asfixiar a capacidade de investimento do setor produtivo.

Mais grave que isso, Miola resgata posição de Stiglitz ao participar de seminário promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social  (BNDES)(Mar/2023), ao apontar o qual danosa pode ser a taxa de juros atualmente praticada no país. “Uma taxa de 13,75%, ou 8% real, é o tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia. É impressionante que o Brasil tenha sobrevivido a isso, que seria uma pena de morte”.

Mas qual é o problema?

Uma vez compreendida a tônica da crítica de Garcia, bem como a posição de Lula, fica  a pergunta: Qual o motivo ou impacto de uma eventual ruptura, por parte de Galípolo, do aumento da taxa de juros para estancar com a ‘herança maldita’ de Campos Neto? Afinal, o chefe do Executivo embora tenha apontado “arapuca” do ex-presidente do BC, não explicou o motivo de “não pode dar um cavalo de pau em um navio do tamanho do Brasil”. Nesse contexto, em apuração PDNews, encontrou algumas posições em relação a um possível norte, e quase todos apontam para o mercado.

No jornal, O Globo (08/Fev)(Veja aqui), o jornalista Carlos Alberto Sardenberg afirma ser o governo responsável por colocar o BC em uma ‘arapuca’ para valorizar o Real e reduzir a dívida pública. “Quando o BC eleva a taxa básica de juros, como faz neste momento, cria uma tendência de valorização do real. É efeito manjado. Os juros mais elevados aqui dentro atraem capitais externos, e a entrada maior de dólares leva à desvalorização da moeda americana. É como banana. Tem muita banana na praça, cai o preço. Tem muito dólar chegando, cai o valor da moeda americana, valoriza–se o real.”.

Por outro lado, o jornalista Reinaldo Azevedo, apresentador do programa “O é da coisa”, da Band (06/Fev), considerou acertada a fala de Lula, além de apontar a ‘sede de sangue’ do mercado. “Eu estou entre aqueles que acham isso [aumento] desnecessário, deste tamanho. Mas agora não adianta, entrou em uma dinâmica que vai ter que dar ‘sangue aos canibais’ porque estão com sede. Por um tempo. E vamos torcer para que a atividade econômica não caia demais, pois já há sinais que está caindo.”, disse o jornalista Reinaldo Azevedo.

Na mesma linha, também o jornalista André Campedelli, apresentador do quadro ICL Mercado e Investimentos, com a economista Deborah Magagna (7/Fev), apontou  ser Campos Neto, responsável por entregar o controle da política monetária ao mercado.

“Campos Neto fez foi basicamente deixar a politica monetária nas mãos do mercado. Então o mercado é quem define para onde vai a Selic, qual vai ser o ritmo da selim, a gente viu agora como foi a reação do mercado por não ter um aviso claro sobre quais são as próximas altas. Então isso tem que acabar. Isso vai demorar até o mercado ‘largar o osso’ agora que sentiu o ‘gostinho de sangue’, para ‘largar o osso’ para deixar o Banco Central voltar a fazer politica monetária, vai demorar um pouco. Isso é um grande problema. Disse ao endossar a posição de Lula em relação a arapuca, avaliou André.

Sobre Garcia

Embora desconhecido para muitos, Garcia, amigo pessoal do ex-deputado federal, Eduardo Cunha (Republicanos/RJ) mas ganhou projeção, por se tornar um dos principais pivôs da abertura de inquérito, por parte do Supremo Tribunal Federal (STF), contra o ex-juiz, atual senador Sérgio Moro (União Brasil/PR), para investigar eventuais práticas de crimes, a exemplo de coação, chantagem, constrangimento ilegal e organização criminosa.

Importante ressaltar que a investigação sobre a denúncia de Garcia contra Moro foi demandada à Polícia Federal (PF) e pela Procuradoria-Geral da República (PGR), a partir de depoimentos sobre desvirtuamento de delação premiada de Garcia conduzida por Moro, enquanto juiz, chefe da 13ª vara federal, firmada em 2004.

Erros e especulações

Em tempo vale resgatar posições constantes de parte da opinião pública, ao lembrar a capacidade do ‘mercado’ de tentar colocar a gestão de Lula contra a parede, patrocinadas por personalidades com ‘relevantes’ para influenciar fatores, a exemplo da alta do dólar, ou do ‘frisson’ da oposição.

A contradição se apresenta em reportagem recente do UOL Notícias (25/Jan)(Veja Aqui), em que a jornalista Lílian Cunha apontou a ‘capacidade’ acertiva do ‘mercado’, que embora tenha poder de influenciar a dinâmica política e econômica do país, estranhamente, desde 2021, conta com a pecha de errar 95% das previsões realizadas sobre sobre a economia ou a própria bolsa de valores.

Dado o cenário como um todo resta a dúvida se Lula, Haddad e até mesmo Galípolo refletem medo, zelo, medo dos erros ou das especulações do ‘mercado’?

Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

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