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06 fev 2025 22:24

Surto psicótico? Delegado atira em esposa, empregada e enfermeira de hospital onde levou filho atingido por estilhaços

Caso divide posicionamentos entre problemas de saúde mental por parte de entidades ligadas à Segurança Pública e de tentativa de feminicídio por parte de entidades ligadas à Saúde. Porém, apenas investigação da PCDF deve ratificar motivação que poderia ter tirado a vida de três mulheres

Por Kleber Karpov

O delegado da 30ª Delegacia de Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), de São Sebastião, Mikhail Rocha e Menezes, de 46 anos, foi preso em flagrante, na manhã de quinta-feira (16/Jan), após atirar contra a esposa e a empregada, na própria casa, no condomínio Santa Mônica, no Jardim Botânico. Com um filho, de sete anos, atingido por estilhaço, Menezes o levou até o Hospital Brasília (HB), no Lago Sul, local onde baleou, também, uma enfermeira, na altura do pescoço, por solicitar que preenchesse a ficha de atendimento da criança.

Após o disparo no HB, Menezes fugiu com o filho, mas acabou por ser interceptado por uma equipe do Patrulhamento Tático Motorizado (Patamo), da Polícia Militar do DF (PMDF) e preso, ainda na altura da QI 23 do Lago Sul. No momento da prisão o delegado portava duas armas de fogo e foi conduzido até a Corregedoria da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

A esposa, Andréa Rodrigues Machado e Menezes, de 40 anos, e a empregada, Oscelina Moura Neves de Oliveira, de 45 anos, ambas internadas em estado grave no Hospital de Base do DF (HBDF) onde passaram por procedimentos. No início da noite a patroa foi transferida para um hospital particular. A enfermeira-chefe do HB,  Priscila Pessoa Rodrigues, 45 anos, seguiu, para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), após ser estabilizada e passar por procedimento cirúrgico.

Motivação

Com a prisão, a PCDF deve instaurar inquérito para investigar a causa dos disparos. Informações preliminares da PCDF apontam que Menezes estava afastado do trabalho, há cerca de 30 dias. Informações da PMDF, por sua vez apontam que o delegado estava em surto psicótico. Informações essas, também ratificadas, em reportagem ao G1/TV Globo, por parte do diretor de Comunicação Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF), Talles Murilo Lopes, que tal afastamento se deu em decorrência de um atestado por tratamento psiquiátrico (Veja Aqui). 

“Nós recebemos a informação de que ele havia procurado um psiquiatra e pegou um atestado. E o atestado que vem de fora da polícia. Você vai lá, homologa e a policlínica te afasta (…) Outros colegas nos informaram que ele estava com sintomas de ansiedade, estresse, depressão (…) Ele tinha recebido essa semana e ele tinha entrado de atestado por questões psiquiátricas”.

Thalles Murilo Lopes
Diretor de Comunicação do Sinpol-DF 

Sinpol-DF

O Sinpol-DF, por meio de uma nota ratificou o surto psiquiátrico como causa dos atos de Menezes e resgatou estudo realizado em 2023, onde aponta que 74,4% dos policiais civis relataram sintomas de depressão e ansiedade, embora apenas 42,7% tenham buscado apoio psicológico ou psiquiátrico. A entidade aponta ainda um afastamento de 400 profissionais de segurança pública.

Nota na íntegra

O caso do delegado Mikhail Rocha e Menezes, da 30ª DP, que, em um surto psicológico na quinta-feira (16), disparou contra a própria esposa e outras duas pessoas, expõe uma realidade cruel enfrentada por policiais civis do Distrito Federal: o adoecimento mental. O Sinpol-DF destaca que os índices são alarmantes, mas as ações para enfrentá-los seguem insuficientes.

Em 2023, um estudo apontou que 74,4% dos policiais civis relataram sintomas de depressão e ansiedade, mas apenas 42,7% buscaram apoio psicológico. Além disso, cerca de 400 policiais se afastam anualmente por transtornos mentais, conforme dados analisados pelo sindicato.

Para o presidente do Sinpol-DF, Enoque Venancio de Freitas, o cenário é agravado pelo excesso de trabalho causado pela dependência do Serviço Voluntário Gratificado (SVG), que complementa a renda dos policiais devido à defasagem salarial e ao acúmulo inflacionário. “Abrir mão de descanso e folgas inevitavelmente afeta a saúde mental. A mente tem seus limites, e as consequências são graves”, alerta Freitas.

Ele expressou solidariedade às vítimas e ressaltou que o ocorrido é reflexo de um problema mais amplo: o impacto do sentimento de desvalorização na saúde mental dos policiais, que carregam o peso de manter Brasília como a segunda capital mais segura do país.

“Há anos alertamos para os custos dessa segurança, que recaem diretamente sobre os policiais civis. É uma realidade cruel e silenciosa que exige atenção e ações efetivas”, conclui Freitas.

Sindepo-DF

Em tom mais cauteloso, o Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Distrito Federal (SINDEPO-DF), entidade lamentou o episódio e colocou a disposição de Menezes, que é sindicalizado do Sindicato. O Sindepo-DF também ressaltou a “necessidade de atenção à saúde mental dos policiais civis do Distrito Federal.”, além de resgatar o estudo do Sinpol-DF. 

Nota na íntegra

O Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Distrito Federal (SINDEPO-DF) vem a público se manifestar sobre o lamentável episódio ocorrido nesta quinta-feira, envolvendo o delegado Mikhail Rocha e Menezes, filiado ao nosso Sindicato.

Desde já, reforçamos que o SINDEPO-DF coloca à disposição do filiado a assistência jurídica necessária, por meio de advogados especializados em direito criminal, administrativo e cível, para acompanhar os desdobramentos do caso. Como entidade representativa, não cabe ao Sindicato emitir juízo de valor sobre o ocorrido, mas sim assegurar o direito constitucional de defesa ao filiado.

O SINDEPO-DF expressa profunda consternação com o gravíssimo fato, que não só comove o Distrito Federal, mas afeta profundamente toda a família policial civil. Apoiamos e nos solidarizamos com as vítimas e seus familiares, desejando plena recuperação e conforto nesse momento tão difícil.

Este episódio também reforça a necessidade de atenção à saúde mental dos policiais civis do Distrito Federal. Segundo um estudo divulgado em outubro de 2023 pelo Sindicato dos Policiais Civis do DF (@sinpoldf_ ), 74,4% dos policiais civis relataram sintomas de depressão e ansiedade, mas apenas 42,7% buscaram tratamento psicológico ou psiquiátrico. Esses dados evidenciam a urgência de políticas públicas voltadas ao cuidado com a saúde mental dos profissionais de segurança pública, especialmente no âmbito da carreira de delegado de polícia.

Reiteramos nosso compromisso com a legalidade, a justiça e o respeito aos direitos humanos.

SINDEPO-DF – Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Distrito Federal

Sindenfermeiro-DF

Se de um lado, as entidades ligadas à Segurança Pública tenham endossado o problema de saúde mental, por outro, o Sindicato dos Enfermeiros do DF (SindenfermeiroDF), por exemplo repudiou as agressões às três mulheres. A diretora de comunicação da entidade sindical, Nayara Jéssica lembrou a falta de segurança aos profissionais de enfermagem, que atuam na linha de frente das unidades de saúde.

Nayara Jéssica apontou o receio dos profissionais de enfermagem às “três tentativas de feminicídio e uma das vítimas é uma enfermeira que estava no seu local de trabalho, no exercício da sua função em uma situação vulnerável diante do paciente, o que mostra para a gente uma necessidade urgente de que as instituições de saúde trabalhem políticas de segurança dos profissionais.”.

Nota na íntegra

O SindEnfermeiro lamenta profundamente o fato ocorrido na manhã de hoje (16) com a enfermeira Priscila Rodrigues, baleada em seu local de trabalho por um homem em surto psicótico – e que já havia tentado cometer outros dois feminicídios pouco antes do ocorrido.

A falta de segurança para os profissionais de enfermagem na linha de frente, sobretudo para as mulheres, é uma constante tanto na rede pública como privada. Por isso, se faz urgente a adoção de medidas que ajudem a proteger a integridade física e psicológica da nossa categoria.

Por fim, prestamos nossa solidariedade às famílias, amigos e todos aqueles que foram atingidos com o fato, e desejamos o reestabelecimento de Priscila e as demais vítimas.

Assista a mensagem da diretora de comunicação do SindEnfermeiro, Nayara Jéssica.

 

Cofen/Coren-DF

Em nota conjunta, os conselhos Federal de Enfermagem (Cofen) e Regional de Enfermagem do DF (Coren-DF), cobraram uma “apuração rigorosa do caso para que o responsável seja punido na extensão do dano que causou”, bem como a manutenção da prisão de Menezes, dado o risco às vítimas e a ordem pública, os conselhos foram m

Diante das evidências, o Cofen e o Coren-DF cobraram “a apuração rigorosa do caso, para que o responsável seja punido na extensão do dano que causou. Também se faz necessária a manutenção da prisão de Mikhail Rocha, uma vez que traz risco às vítimas e à ordem pública.”

As entidades, também apresentaram lembraram as reiteradas práticas de violência contra os profissionais de enfermagem, ao que classificaram de “problema crônico”, ao apresentarem números provenientes de pesquisas sobre agressões a esses trabalhadores no DF. “De acordo com levantamento do Coren-DF junto a 834 profissionais de Enfermagem (100%) em 2023, 77% disseram que já sofreram humilhação, 70% já foram xingados, 58% foram ameaçados, 10% foram empurrados, 5% levaram tapa e 0,3% dizem que já levaram até soco.”.

SBH

O Sindicato Brasiliense de Hospitais, Casas de Saúde e Clínicas (SBH), entidade patronal, emitiu Nota de Repúdio em que condenou os atos praticados contra as três mulheres, em especial contra Priscila Pessoa, ao que classificou de “atentado à dignidade humana”.

“A violência contra a mulher é um atentado à dignidade humana e representa uma das formas mais cruéis de violação aos direitos fundamentais. O episódio ocorrido, envolvendo um delegado afastado da Polícia Civil, não apenas expõe as mulheres a riscos inaceitáveis, mas também atinge a segurança de todos os profissionais que dedicam suas vidas ao cuidado do próximo, a exemplo do ocorrido com a chefe de enfermagem ferida durante o exercício de sua profissão.”, afirma o SBH.

Saúde Mental x Feminicídio

O caso, extremamente sensível, chama atenção, por despertar reações distintas, em especial de duas categorias de trabalhadores, especialmente relevantes da sociedade brasileira, a segurança pública e a saúde, ambos a cumprirem seus papeis institucionais.

E o caso se faz sensível porque a depender das conclusões alcançadas na investigação da PCDF, se hipoteticamente se chegar a conclusão que não se tratava de um surto psicótico mas de ações deliberadas, segundo advogado, especialista em Direito Criminal, que conversou com PDNews e pediu para não ser identificado, Menezes pode ser indiciado por algumas práticas criminosas.

“Se as investigações chegarem a conclusão que o delegado tinha pleno controle de suas ações, uma vez indiciado o juiz pode condená-lo por tentativa de feminicídio, inclusive com agravante por causa da exposição do filho menor que estava presente no local, viu a cena e chegou a ser atingido pelos estilhaços, também por tentativa de homicídio tanto da empregada e da enfermeira no hospital e também por dano à saúde pública por colocar em risco a vida de médicos e de outras pessoas, além de outros crimes que podem ser imputados a ele, vai depender das apurações, do indiciamento da polícia civil, além da decisão do juiz.”, explicou o advogado em relação ao cenário sugerido.

Ainda segundo o especialista, caso as investigações cheguem a conclusão que de fato Meneses estava em surto psicótico, ainda que três mulheres tenham sido atingidas e internadas, em estado grave, o delegado ficará em condição de inimputabilidade. “No caso concreto, não há sequer que se falar em crime. O delegado pode ser submetido a eventuais medidas de seguranças compatíveis com o diagnóstico do policial, pois em estado de surto psicótico, ele estaria inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito de suas ações.”. 

Mas o especialista apontou também a possibilidade de se chegar a conclusão que o policial tinha consciência parcial em relação aos atos praticados. Caso que se configura em uma semi-imputabilidade. Nesse caso, de acordo com o operador do Direito, “se houver o indiciamento caberá ao juiz a dosimetria da pena, que deve ser reduzida ou substituir a pena por um tratamento compulsório.”.

Cautela

Segundo o especialista, o caso concreto chama atenção, sobretudo da imprensa e das entidades serem cautelosas com a abordagem, uma vez que há indicadores que apontam para a possibilidade real de se tratar de um caso de surto psicótico, algo que em especial ter uma reação contrária por parte de entidades ligadas à Saúde, deve ser redobrado.

“Há um cenário extremamente lamentável de um profissional de segurança pública, principalmente porque era um delegado, uma pessoa que sabemos que tem, ou deveria ter um bom preparo psicológico, mas que acabou por quase tirar a vida de três mulheres. Então sem saber as circunstâncias reais, o que somente as investigações devem começar a apontar e o delegado vai ter direito a presunção de inocência e ao contraditório, é salutar, em especial que a imprensa e também as entidades de saúde, não condenem prontamente o delegado, quando há uma boa chance de realmente ele estar em surto psicótico. Acho que o caso exige o benefício da dúvida.” explicou.

A ponderação leva a compreender, a posição, responsável e ética na nota conjunta tanto do Cofen quanto do Coren-DF ao cobrar a “apuração rigorosa do caso para que o responsável seja punido na extensão do dano que causou”, porém, sem estigmatizar, ou atribuir prática criminosa ao delegado.

O que diz a Polícia Civil

Informações apuradas pela Rede Globo apontam que a PCDF “A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) confirma a prisão em flagrante de um delegado de Polícia, em razão de ter baleado, nesta quinta-feira (16/01), duas pessoas em um condomínio na região de São Sebastião e uma terceira pessoa em um hospital do Lago Sul. A instituição lamenta profundamente os fatos, e manifesta solidariedade às vítimas e a seus familiares.”

O que diz o Hospital Brasília

“Informamos que hoje pela manhã (16) um homem que aguardava atendimento médico no pronto-socorro atirou em uma das nossas colaboradoras, que está sob cuidados médicos. Fomos informados pela polícia que o atirador já foi detido. Estamos à disposição para apoiar nas investigações das autoridades competentes. As atividades do hospital seguem sem nenhum prejuízo assistencial aos pacientes.”

O que diz a defesa de delegado

Em entrevista à Rede Globo, a defesa de Mikhail Rocha disse que “em respeito a gravidade dos fatos, bem como a confidencialidade e o sigilo legal das investigações, informa que se manifestará publicamente em momento oportuno”.

 

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