Por Kleber Karpov
O supervisor de robótica do Departamento de Terapia Minimamente Invasiva da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Gilberto Laurino Almeida, afirmou recentemente que a estimativa de cura para pacientes diagnosticados com câncer de próstata em estágio inicial pode atingir até 98% (28/Out). A declaração, que sublinha a urgência do diagnóstico precoce, busca alertar a população masculina sobre a importância dos exames anuais e o tratamento adequado.
Segundo explicou o médico, este resultado altamente positivo depende diretamente do estágio da doença, do tipo de câncer apresentado e do momento em que o tratamento é iniciado. “No início da doença, a chance de cura é alta. Se foi tratado com a doença em estágio mais avançado, a chance é menor”, afirmou Almeida.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima para este ano de 2025 o surgimento de 71.730 novos casos de câncer de próstata no Brasil. Após o câncer não cutâneo, este tipo de tumor detém a maior frequência e impacto na população masculina, tornando-se uma grave questão de saúde pública.
Novembro azul
Dados provenientes do sistema de informações sobre mortalidade do Ministério da Saúde revelam um cenário preocupante. Em 2023, por exemplo, foram registrados 17.093 óbitos em decorrência da doença, o que representa uma média de 47 mortes por dia.
Gilberto Laurino Almeida, da SBU, destacou a necessidade dos homens se cuidarem, definindo isto como o mote central da Campanha Novembro Azul de 2025. “Não é só a próstata. Tem todo um conceito de saúde por trás disso tudo. É a saúde do homem que está em jogo; não só a saúde da próstata. Para viver mais, o homem precisa se cuidar mais”, reforçou.
O especialista ressaltou ainda que, com o aumento da expectativa de vida, o homem deve inserir-se neste contexto de cuidado para evitar perdas. “E se o homem não estiver inserido nesse contexto, claramente ele vai perder anos de vida por algumas doenças que são evitáveis, como o câncer de próstata. A cura, como falei, chega a até 98% mas, para isso, tem que ser diagnosticado no estágio inicial”, concluiu Almeida.
Uma das maiores dificuldades apontadas pela SBU é a falta de hábito do homem em consultar o médico urologista com a frequência necessária, diferentemente do que ocorre com as mulheres em relação ao ginecologista.
Integrado à Campanha Novembro Azul deste ano, a Sociedade Brasileira de Urologia fará um mutirão de atendimentos em Florianópolis, no estado de Santa Catarina, no próximo dia 12 de novembro. A ação está prevista para ocorrer no âmbito do 40º Congresso Brasileiro de Urologia, que será realizado entre os dias 15 e 18 daquele mês.
O mutirão objetiva alertar sobre a doença e submeter muitos homens a uma avaliação. Aqueles que apresentarem suspeita de câncer de próstata serão encaminhados para biópsia e, após a confirmação do diagnóstico, serão direcionados para o tratamento mais adequado.
O médico explicou que entre 85% e 90% dos casos da doença são esporádicos, não possuindo origem familiar. A prevenção eficaz consiste em o homem procurar o urologista pelo menos uma vez ao ano, visando ao diagnóstico na fase inicial e, consequentemente, à cura da maioria dos tumores.
Cirurgia robótica
Atualmente, a prostatectomia radical assistida por robô é o procedimento cirúrgico mais adotado pelos urologistas para a retirada dos tumores. Gilberto Laurino Almeida manifestou satisfação pela decisão do Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde, que representa o Ministério da Saúde, de incorporar a cirurgia robótica para o tratamento de pacientes com câncer de próstata clinicamente avançado no Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a Portaria que formaliza a inclusão, as áreas técnicas terão o prazo máximo de 180 dias para efetivar a oferta da cirurgia no âmbito do SUS. No entanto, o representante da SBU expressou ressalvas quanto à operacionalização da medida, visto a ausência de infraestrutura na rede pública.
“Embora todos nós tenhamos consciência de que essa tecnologia é excelente e que deva entrar no SUS para acesso dos pacientes e benefício deles, a gente entende claramente que o momento foi um pouco no atropelo para isso acontecer porque não existe robô no SUS para atender esses pacientes. Ou existem poucos”, disse Gilberto Laurino Almeida.
O urologista detalhou que a tecnologia possui custo muito elevado, o que dificulta a aquisição, a instalação e o treinamento das equipes pelos hospitais. “Então, hoje existe esse gap (lacuna) entre o que foi aprovado e o que, realmente, vai acontecer e que nós, de fato, não sabemos”, explicou Almeida.
De modo geral, na visão do especialista, os hospitais públicos não dispõem de condições financeiras para a compra imediata de uma plataforma robótica. Ele acredita que a preparação da rede hospitalar do SUS demandará muito mais tempo para se tornar realidade do que os 180 dias determinados pelo Ministério da Saúde. “E nem todos vão ter acesso”, salientou o médico.
Questionado sobre a possibilidade de pacientes do SUS realizarem o procedimento em hospitais privados conveniados, o médico informou que a viabilidade dependerá diretamente da dinâmica de implementação deste processo.
“Existem outras cirurgias que foram introduzidas no âmbito do SUS e até hoje não ocorreram porque essas cirurgias demandam equipamentos, demandam materiais que são descartáveis. Tudo isso ainda não foi normatizado, nem regularizado”, citou o médico.
Como exemplo, o especialista citou o procedimento de ureteroscopia, cirurgia endoscópica utilizada para remoção de cálculos renais, que, apesar de ser de alto custo e ter sido incluído no SUS, ainda não é realizado por falta de regularização de processos.
A tecnologia
A cirurgia de câncer de próstata por robótica assemelha-se a uma cirurgia laparoscópica. O procedimento envolve a colocação de portais no abdômen, por onde são inseridos equipamentos conhecidos como pinças.
As pinças são acopladas aos braços robóticos, os quais são coordenados pelo cirurgião, que opera o sistema sentado em um console, fora do campo cirúrgico direto. Contudo, sempre há um segundo cirurgião junto ao paciente para auxiliar. A principal vantagem da robótica é oferecer ao cirurgião uma visão em 3D ampliada, além de um controle mais preciso dos movimentos.
A cirurgia laparoscópica, por sua vez, diferencia-se da endoscopia, onde o equipamento entra no paciente pela uretra para a raspagem da próstata em casos não cancerosos. O doutor Gilberto Laurino Almeida reafirmou, para concluir, que os pacientes submetidos à cirurgia com câncer de próstata localizado, sem metástase, têm uma estimativa de cura que alcança os 98%.
Kleber Karpov, Fenaj: 10379-DF – IFJ: BR17894
Mestrando em Comunicação Política (Universidade Católica Portuguesa/Lisboa, Portugal); Pós-Graduando em MBA Executivo em Neuromarketing (Unyleya); Pós-Graduado em Auditoria e Gestão de Serviços de Saúde (Unicesp); Extensão em Ciências Políticas por Veduca/ Universidade de São Paulo (USP);Ex-secretário Municipal de Comunicação de Santo Antônio do Descoberto(GO); Foi assessor de imprensa no Senado Federal, Câmara Federal e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.










