Deu match: Trump elogia o vigor e parabeniza Lula após encontro na Malásia, além de manter canal direto com presidente petista

Por Kleber Karpov

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta segunda-feira (27/Out) ter tido uma “boa reunião” com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à margem da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), na Malásia. O chefe de Estado norte-americano descreveu Lula, que completou 80 anos na mesma data, como “um sujeito muito vigoroso” e afirmou que as negociações bilaterais prosseguem.

A declaração de Trump veio à tona logo após o encontro entre os líderes, que buscam uma solução para questões comerciais pendentes, como as tarifas atualmente impostas pelos Estados Unidos. “Tivemos uma boa reunião. Vamos ver o que acontece. Não sei se algo vai acontecer, mas vamos ver. Eles gostariam de fechar um acordo. Vamos ver. No momento, eles estão pagando, acho, uma tarifa de 50%. Mas tivemos uma ótima reunião”, disse Trump.

Trump parabeniza Lula por aniversário e diz que reunião foi ótima. pic.twitter.com/EpgmHsMMXR

— DW Brasil (@dw_brasil) October 27, 2025

Em um gesto diplomático incomum, Trump fez questão de parabenizar publicamente o presidente brasileiro pelo aniversário, destacando ter ficado “muito impressionado” com a vivacidade do líder.

“E feliz aniversário. Quero desejar feliz aniversário ao presidente, ok? Hoje é o aniversário dele, você sabia disso? Ele é um sujeito muito vigoroso, na verdade, e fiquei muito impressionado. Mas hoje é o aniversário dele, então feliz aniversário, certo? Você poderia avisá-lo, por favor?”, questionou Trump aos jornalistas.

Dois dias antes, Trump fez publicar no perfil oficial da Casa Branca, elogio ao presidente Lula, a quem “sempre” ter um bom relacionamento. Além da expectativa de se fechar bons acordos com o Brasil.

President Trump meets with Brazilian President Luiz Inácio Lula da Silva at ASEAN summit.

“It’s a great honor to be with the President of Brazil… I think we should be able to make some pretty good deals for both countries… We always have had a good relationship — I… pic.twitter.com/SVrcCrjUWo

— The White House (@WhiteHouse) October 26, 2025

Canal Aberto e Otimismo Comercial

Na noite desta segunda-feira, já no fuso horário da Malásia, o presidente Lula confirmou a jornalistas que ele e o presidente dos Estados Unidos estabeleceram um canal direto para o diálogo, sempre que for necessário resolver impasses.

“Estabelecemos uma regra de negociação que toda vez que tiver uma dificuldade eu vou conversar pessoalmente com ele. Ele tem o meu telefone e eu tenho o telefone dele”, disse Lula. O presidente brasileiro agradeceu as felicitações de Trump pelo aniversário, mencionando: “Eu vi a mensagem. Eu agradeço”.

Horas antes, em coletiva, Lula já havia demonstrado otimismo quanto à suspensão das tarifas impostas pelos EUA. Ele disse ter tido uma “boa impressão” de que os países chegarão a um acordo comercial definitivo.

“Estou convencido de que, em poucos dias, teremos uma solução definitiva entre Estados Unidos e Brasil para que a vida siga boa e alegre do jeito que dizia o Gonzaguinha na sua música”, afirmou o presidente brasileiro.

Reações

O vice-presidente em exercício, Geraldo Alckmin, classificou o diálogo como uma prova da validade da diplomacia. Para o vice-presidente, o encontro representa um “passo para Brasil e EUA estreitarem ainda mais seus laços de amizade”, demonstrando o compromisso do atual governo com o povo brasileiro.

O presidente do Senado e do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União-AP), manifestou uma avaliação muito positiva da reunião. Ele pontuou que a relação entre Brasil e Estados Unidos é historicamente estratégica, cumprimentando os atores que contribuíram para o momento, o qual ele considerou um “marco importante de um processo que continua”.

De maneira análoga, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), parabenizou os presidentes pela iniciativa. Ele fez uma observação sobre o retorno do diálogo e da diplomacia ao centro das relações bilaterais, reforçando que “quando líderes escolhem conversar, a História agradece”.

A ironia da política

Porém, o afago de Trump a Lula, que incluiu elogios à “energia” e felicitações pelo aniversário do chefe do Palácio do Planalto, ocorre logo após a visita, o que contrasta com a postura frequentemente beligerante de alguns aliados de Jair Bolsonaro.

Situação que levou a posições controversas, por parte da oposição ao governo, a exemplo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL/SP) e do comentarista Paulo Figueiredo. Ambos domiciliados nos EUA, onde atuam para tentar inviabilizar o governo brasileiro, a ponto de conseguir que Trump impusesse sanções a membros de Executivo e o Judiciário brasileiro, tentaram contestar a aproximação política pró-Lula do ex-presidente americano.

Eduardo Bolsonaro que chegou a utilizar as redes sociais para afirmar, peremptoriamente que qualquer decisão de Trump, no que tange ao Brasil, “obrigatoriamente passa por Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo”. Acabou por tentar emplacar outro contexto, que Trump conversa e aperta a mão de todo mundo, ao referenciar, como exemplo, o encontro do presidente americano com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un.

Porém

O pragmatismo das relações internacionais demonstra que, no tabuleiro da geopolítica, os interesses comerciais superam ideologias polarizadas. Enquanto isso, a base de apoio que idealiza o alinhamento ideológico absoluto entre os líderes de direita é obrigada a assistir ao presidente Lula a construir uma ponte direta e elogiada pelo político que consideravam um aliado incondicional.

Nesse sentido, até mesmo, Valdemar da Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL) em que são filiados, além de Eduardo Bolsonaro, também o ex-presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro (PL/RJ), foi categórico em afirmar, à imprensa, ter gostado muito, do encontro, além de afirmar que Trump e Lula devem definir acordos e acertar as tarifas impostas ao Brasil.