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24 abr 2024 10:06


Enquanto instituto, Hospital de Base deve ficar sem receber recursos do governo federal

Tribunal aponta que entidades privada, sem fins lucrativos, só podem receber recursos do governo federal por meio de convênios ou por emendas parlamentares no Congresso Nacional

Por Kleber Karpov

Após a aprovação da Lei Distrital 5.899/2017, que instituiu o Instituto Hospital de Base do DF (IBHDF), o HBDF poderá ficar sem recursos por um bom tempo. Ao ser convertido em Serviço Social Autônomo (SSA) de direito privado, deve deixar de ser parcialmente custeado com recursos da União e passará a ser custeado apenas com dinheiro proveniente de arrecadações de impostos pelo GDF.

A informação chegou ao Política Distrital (PD) que, sob sigilo de identidade explicou que, uma vez convertido em SSA, de direito privado, o hospital deixará de fazer parte Estado, a exemplo dos hospitais públicos do DF e, consequentemente, ficará sem aporte, por parte de recursos do governo federal.

“O Hospital de Base, após registrado o estatuto em cartório, passará a ser Serviço Social Autônomo, de Direito Privado, o hospital deixará de pertencer ao Estado. Dessa maneira, ao deixar de pertencer ao escopo do serviço público, o Instituto Hospital de Base do DF, ficará impedido de receber verbas do governo federal.”, disse a advogada.

Outro advogado a corroborar com tal posicionamento foi o doutor em Direito Tributário, João Paulo Todde. “Se a lei instituiu o Instituto Hospital de Base enquanto um Serviço Social Autônomo, de direito privado, esse Instituto deverá ser mantido com recursos oriundos de arrecadações do Estado, nesse caso do Distrito Federal, a exemplo dos impostos arrecadados.”.

Recursos Federais

O custeio da Saúde pública do DF é proveniente, em grande maioria, com recursos do Fundo Constitucional do DF (FCDF) e Ministério da Saúde (MS).

Um estudo, de 2013, publicado pelo Observatório de Saúde do DF (OSDF), pela médica, mestre em Ciências da Saúde pela UnB e especialista em Gestão de Saúde e Saúde Pública, Helem Freitas e do médico e pesquisador aposentado do IPEA, pesquisador do Observatório de Recursos Humanos/NESP/UnB. Especialista em Saúde Pública, Sérgio Francisco Piola, aponta que o governo federal, por meio do MS e do FCDF é responsável por garantir cerca de 50% do custeio da Saúde.  Naquele ano, a Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF) recebeu um montante de R$ 4,72 bilhões entre recursos do Tesouro do DF e do governo federal.

Desse montante, os dados apontaram a destinação de R$ 1,87 bilhões, equivalente a 28% do FCDF, utilizados exclusivamente para custeio de pessoal ativo e inativo, além de R$ 666 milhões ou 14% do montante, do Ministério da Saúde. O Tesouro do DF arcou, por sua vez, com R$ 2,81 bilhões ou seja, 46,1% dos gastos na Saúde pelo GDF.

Nesse cenário, com o orçamento, em 2017, de aproximadamente R$ 580 milhões para manter a estrutura e o pagamento de cerca de 3.500 servidores da SES-DF, lotados no HBDF é coerente afirmar que aproximadamente metade desse valor era custeado pelo governo federal. Com a instituição do IHBDF, o GDF, se mantiver a mesma estrutural, terá que arcar com 100% do custeio, com recursos exclusivamente do DF.

O que diz o TCU

PD questionou, o Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o recebimento de verba proveniente do governo federal, especificamente, em relação ao IHBDF. Por meio da Assessoria de Comunicação (ASCOM), o Tribunal foi categórico confirmar as afirmações dos advogados.

“Os recursos destinados às pessoas jurídicas em cooperação governamental (que é caso dos serviços sociais autônomos) são oriundos de contribuições parafiscais, recolhidas compulsoriamente pelos contribuintes que a lei estabelece, para enfrentarem os custos decorrentes de seu desempenho, sendo vinculados aos objetivos da entidade. A Constituição Federal, em seu artigo 240, refere-se a tais contribuições. Esses recursos não provêm do erário, sendo normalmente arrecadados pela autarquia previdenciária e repassados diretamente às entidades. Nem por isso deixam de caracterizar-se como dinheiro público. Dito tudo isto, resta claro que os recursos do IHBDF advêm do Distrito Federal, e não de repasses da União.”.

No entanto, de acordo como TCU, o IHBDF pode “celebrar convênios ou outros contatos de repasse com a União.”. Porém, o problema, à curto prazo é o tempo e às condições para que o Instituto possa se beneficiar com verbas por parte da União. Uma vez que a legislação estabelece o tempo mínimo de três anos de atividade, enquanto Instituto, para poder requerer tal benefício.

Desastre a vista

Para o vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF (SINDATE-DF), Jorge Vianna, o governo coloca em risco a manutenção do HBDF ao insistir no que chamou de “erro desastroso” ao se criar o Instituto.

“É difícil entender como apenas o governador e esse secretário de Saúde, que ambos já demonstraram não estarem nenhum pouco preocupados com os servidores e tampouco com saúde da população do DF, insistirem nesse erro desastroso. Os sindicatos, partidos políticos estão na Justiça para comprovar a inconstitucionalidade que foi a aprovação dessa Lei, feita por um grupo de parlamentares que não se importam com a população e aprovaram o instituto para defender interesses próprios e agora a cada dia que passa temos mais uma surpresa que apenas demonstra que se levado adiante podemos decretar o fim do maior hospital do DF, responsável por atender as demandas de média e alta complexidade. É isso que esse governador e esse senhor que não tem o mínimo de compromisso com a Saúde estão fazendo. Espero que o Ministério Público continue a intervir e que o Tribunal de Justiça analisem e constatem, o quanto antes, esses erros e reverta essa situação.”, disse Vianna.

A outra parte

PD acionou a Procuradoria Geral do DF (PG-DF) sobre o assunto, porém, o órgão ‘jogou a bola’ para a SES-DF. A Secretaria por sua vez, por meio da ASCOM, se limitou a informar que “Esse não é o entendimento da Secretaria de Saúde sobre esta questão.”.

Enquanto isso, no DF…

Embora o GDF tenha sancionado e regulamentado a lei do IHBDF, o governo teve a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2018, aprovadas, sem previsão de orçamento para destinar ao IHBDF. Com isso, o Instituto, se registrado em cartório no início de janeiro, como quer o governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB), o HBDF poderá ficar, totalmente, sem recursos.

 

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