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18 abr 2024 03:49


Médicos x Deuses x Gestores

Um dos grandes dilemas na gestão da Saúde pública do DF e do país gira em torno da aparente dicotomia: corporativismo médico X Gestão. Afinal a condução da Saúde precisa de médico ou de gestor? E um enfermeiro não serve para a gestão? Uma discussão entre dois médicos com pontos de vistas diferentes demonstram o impasse e trazem uma reflexão.

Por Kleber Karpov

No Distrito Federal, onde a Secretaria de Estado de Saúde do DF, sofre em decorrência de uma série de problemas, ocasionados por falta de recursos, impossibilidade de se efetuar contratações, em detrimento da limitação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), e das constantes recomendações do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) de não se efetuar novas renovações de contratos temporários, a definição de quem deve gerenciar pastas estratégicas da SES-DF continua a ser foco de discussões entre profissionais de saúde, políticos e a opinião pública.

E tais discussões se estendem do comando da SES-DF à gestão de subsecretarias, hospitais e demais unidades de Saúde. Desde que o governador, Rodrigo Rollemberg (PSB), ganhou as eleições (Out/2014), o cardiologista, Ivan Castelli, foi o primeiro indicado para assumir a Secretaria de Saúde, porém, declinou o convite. O vice-reitor, médico, proctologista, João Batista de Sousa, assumiu a pasta, mas foi derrubado pela superbactéria Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC)(Jul) além de algumas trapalhadas de gestão, a exemplo da exposição midiática em relação ao estoque de órtese e prótese para 50 anos.

Entrou em cena uma mudança de paradigma, quando Rollemberg ignorou nomes de médicos conhecidos da cidade e nomeou no final de julho, o engenheiro civil e ex-secretário de Planejamento do estado de Maranhão, Fábio Gondim, com a missão de fazer gestão na SES-DF.

Desafios

Além dos graves problemas, diariamente noticiados pela imprensa, a exemplo da falta de médicos, de estrutura e de medicamentos, que em geral acontecem nas portas de entradas das unidades de saúde, coube a Gondim a solução de outras demendas. Bons exemplos envolvem a reposição de quadros de servidores, racionalização de gastos com horas-extras, logística de priorização de atendimentos, controle e otimização de escalas, pagamentos de fornecedores, gestão de contratos, redução e atendimento de judicializações, ampliação da capacidade de atendimento, organização de faturamento e melhoria e controle da informatização da rede.

Embora a Saúde colecione problemas há algumas décadas, sob a ótica da gestão, um dos agravantes  é fazer com que a Secretaria de Saúde funcione com o suposto rombo do GDF, estimado em R$ 6 bilhões, conforme  anunciado por Rollemberg e contestado por opositores, mas, cok forte impacto na SES-DF.

Corporativismo médico X Gestão I

Nesse processo de definições, por parte de Fábio Gondim, uma crítica  sempre acaba nas rodas de conversas, virtuais ou do mundo real: a SES-DF deve estar sob direção de um gestor, sem conhecimento sobre Saúde Pública, ou nas mãos de médicos?

Ao assumir, Gondim prometeu resolver os problemas de gestão da Saúde do DF, o que não se faz da noite para o dia, sobretudo quando problemas provenientes à falta de recursos batem, todos os dias, a porta da SES-DF. Os caminhos percorridos pelo Secretário têm na pauta de prioridades, a reestruturação da Saúde e a descentralização da gestão, além de outros temas sensíveis à cidade, a exemplo da possibilidade de se utilizar Organizações Sociais no processo de gestão de unidades de Saúde.

Um gestor sozinho não faz gestão

Em setembro o Tribunal de Contas do DF (TCDF) apontou a existência de 1.528 profissionais de saúde em áreas administrativas. Desses, 442 médicos entre cirurgiões, anestesistas e oncologistas. À época, Gondim esclareceu a necessidade de se manter alguns servidores, que poderiam atender na atividade fim, em cargos de gestão, por questões técnicas mas observou que reduziu consideravelmente esse número.

Corporativismo médico X Gestão II

E esse é o foco desse artigo que resgata opiniões divergentes entre dois médicos, em um grupo do aplicativo Whatsapp. Um questiona a nomeação do enfermeiro, pós-graduado em gestão hospitalar, Ivan Rodrigues, para gerir a Coordenação Regional de Saúde de Núcleo Bandeirante. Isso insere um novo ingrediente à dicotomia por sugerir que apenas médicos devem ser gestores de unidades de Saúde.

Tal questionamento foi rebatido por outro médico ao enfatizar que estudou por 10 anos, entre graduação e especializações, para atender pacientes, além de lembrar que a Saúde do DF está na UTI e precisa da união de forças para resgatá-la. O relato segue transcrito na íntegra:

“Sou médico da Regional de Saúde Núcleo Bandeirante e sinto vergonha em ler em um grupo de médico uma mensagem postada por um colega que não concorda com a atual gestão, pelo simples fato do senhor Ivan Rodrigues não ter frequentado uma faculdade de medicina é sim de gestão público e Enfermagem. Também reclama que o atual  gestor quer colocar nos cargos de maior importância administradores. Sugerindo que os mesmos não tem competência para tal cargo. Na mesma mensagem ainda chama nossas colegas de trabalho de “velhas”. Primeiro respeito é bom e cabe em todo lugar. Segundo, o clima é de paz neste momento, coisa que já faz uma grande diferença na vida de servidores.  Sou a favor sim de um gestor na Regional de Saúde, pois é de conhecimento de todos que  tanto Dr Pedro como Dra. Wilna Célia acabou com nossa regional de saúde.  Sou médico e estou aqui para atender a população. Estudei 10 anos entre faculdade e especializações para atender pacientes pois faculdade de medicina forma médicos e não gestores. A Saúde esta na UTI é precisamos  unir forças para solucionar problemas. O meu colega pergunta pelo Conselho de Saúde [do DF] e eu convido não só o Conselho de Saúde mas toda a população para lutarmos juntos por uma saúde de qualidade. Precisamos trabalhar e fazer jus aos nossos salários que embora muitos dizem ser baixos, porém continuamos a receber e ficamos putos quando o governo não paga. Acho que devemos sempre lutar por melhores salários, melhores serviços e principalmente melhores gestores. Uma secretária de saúde falida não ajuda nem servidor nem paciente. Eu apoio e sempre vou apoiar  gestores nas  coordenações, pois tenho um salário de 28 mil para atender pacientes e não gerir pessoas, material etc. Está na hora dos conselhos de saúde e população lutar para tirar das gestões  médicos sem nenhuma experiência em gestão. Só um desabafo de um médico da regional de saúde Núcleo Bandeirante indignado em ver colegas se achando verdadeiros Deuses e sendo pagos com o dinheiro público assim como eu, atendendo 10 pacientes por períodos achando que está fazendo a diferença no mundo quando tenta convencer pessoas como eu que médico são Deuses e Donos da SES. Vamos trabalhar por uma saúde melhor com um pouco mais de humildade, afinal não somos donos do mundo!(SIC)”.

Esse questionamento vai ao encontro a outro crítico dessa visão. O vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem (Sindate-DF), Jorge Vianna, que defende a participação ativa de profissionais, devidamente capacitados, desde que conheçam a Saúde, no processo de gestão do SUS-DF. Ainda em relação à quebra da ‘deusificação gerencial’, Vianna também é combatente à ideia de um técnico em enfermagem não poder ser nomeado conselheiro junto aos conselhos de Enfermagem do país.

Resgate Histórico

Nos últimos quinze anos, estiveram à frente da SES-DF, o médico, Arnaldo Bernardino na gestão do ex-gocernador, Joaquim Roriz, o bancário e atual deputado federal, Augusto Carvalho (Solidariedade) e o engenheiro civil, Geraldo Maciel, nas gestões do ex-governador, José Roberto Arruda (PR), além dos médicos Rafael de Aguiar Barbosa e Elias Fernando Miziara, além da farmacêutica, Marília Coelho Cunha, durante a gestão de Agnelo Queiroz (PT). O que todos têm em comum? Processos por improbidade administrativa na tentativa de fazer a gestão da Saúde do DF.

Sem entrar no mérito das denúncias contra os ex-secretários de Saúde do DF, a grande referência em gestão da Saúde do DF atualmente é atribuída ao ex-deputado federal, ex-secretário de Saúde do DF, Jofran Frejat, que esteve à frente da pasta, por quatro vezes, sendo as duas últimas na gestão de Roriz, na década de 90.

Em uma conversa com este articulista Frejat afirmou, recentemente, que nunca foi corporativista, além de defender: Se o gestor não tem conhecimento da área médica, deve se cercar de profissionais que entendam dos diversos segmentos da Saúde, o que viabilizará uma gestão satisfatória.

Opinião

Essa dicotomia entre corporativismo médico e gestores, pode ser facilmente derrubada se houver a compreensão que há médicos e não médicos com capacidade técnica para fazer gestão. Se esse profissional for da saúde, melhor. E na falta dos dois atributos, o casamento, a exemplo do que acontece em âmbito da gestão da Secretaria de Saúde do DF, entre gestor e técnico, desde que haja entrosamento e trabalho em equipe, pode rebserh bons resultados.

Atualização 20/12/2015 às 2h16 

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