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20 abr 2024 05:09


Acidente de moto termina em morte e pode revelar completo descaso da Secretaria de Saúde com o SAMU-DF

Profissional aponta que óbito poderia ser evitado se viaturas tivessem equipamentos necessários para reanimação de vítimas de acidentes

Por Kleber Karpov

Mais um acidente envolvendo a colisão de uma moto com um ônibus, terminou em morte, na tarde desta sexta-feira (20/Jan), na Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia) Sul, próximo à estação do metrô Shopping. O jovem Jorge Paula Noronha Mafra, de 23 anos veio a óbito, após tentativa de reanimação por mais de 60 minutos. Porém, denúncia recebida por Política Distrital, aponta que motolância que atendeu a ocorrência estava sem equipamento adequado para o salvamento, o que poderia dar um desfecho menos trágico para Mafra e os familiares.

Segundo a fonte, que pediu sigilo sobre a identidade, por ser servidor da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), lotado no Serviço de Atendimento Médico de Urgência do DF (SAMU-DF), o colega que prestou assistência a Mafra se queixou pela falta dos equipamentos adequados, na motolância, para tentar reanimar o jovem motociclista. Mas há mais de oito meses que as unidades ou saem para atender sem as pás de DEA .

“Até quando esse governo irá ter o descaso com os brasilienses e com a saúde? Eu te pergunto. Colega saindo de um plantou deparou com acidente moto x ônibus, politrauma evoluiu para PCR [Parada Cárdio Respiratória], 60 minutos de manobras cardíacas sem equipamento certo como pás de Déia [Desfibrilador Externo Automático (DEA)] – aparelho descartável que acoplado no DEA é utilizado para tentar reanimar o paciente com PCR –, mais uma morte para a conta do senhor governador e seu secretário de saúde incompetente.(SIC)”, se queixou a fonte de Política Distrital.

Denúncias recorrentes

Ao PD, a fonte explicou que todas as viaturas do SAMU-DF são equipadas com o DEA, porém, estão sem as pás há mais de oito meses. Ainda de acordo com o denunciante, quando têm o equipamento, são reutilizadas por até cinco vezes.

O caso apontado pelo denunciante é recorrente. Em 24 de junho Política Distrital publicou denúncia de servidores que apontavam a utilização de pás de DEA vencidos e em alguns casos reutilizados, o que a SES-DF, prontamente negou.

Outro caso publicado pelo Blog ocorreu em 15 de outubro do ano passado, Política Distrital, ocasião em que um adolescente de 15 anos morreu, em Planaltina. O denunciante, informou que a ambulância saiu para fazer atendimento sem as pás de DEA, o que inviabilizou a reanimação de um adolescente de 15 anos.

Descaso I, II…

Em se tratando de problemas, nos últimos meses, o SAMU-DF protagonizou vários casos de denúncias abordados por Política Distrital, a exemplo da falta de motorista, no final de maio de 2015, para transportar uma paciente com problemas cardíacos do Hospital Regional de Brazlândia (HRBz) para o Hospital de Base do DF (HBDF), ou ainda a falta de combustível para realizar o traslado de pacientes entre unidades de saúde do DF, caso também relatado em 2015, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) São Sebastião.

Em relação ao combustível, o Tribunal de Justiça do DF (TJDFT) chegou a exigir que a empresa proprietária do posto de gasolina em São Sebastião, retomasse o abastecimento das viaturas, após suspender o fornecimento de combustível sob alegação de atrasos de pagamentos por parte da SES-DF.

MPDFT

Casos como esses foram denunciados as promotoras, Marisa Isar da 2a ProSUS do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e Cláudia Fernanda, do Ministério Público de Contas do DF (MPC-DF). O Blog acompanhou uma dessas denúncias em ocasião de reunião de representantes de entidades sindicais com as procuradoras dos dois órgãos de controle.

Na ocasião, a deputada federal, Erika Kokay, responsável por pedir a reunião para tratar sobre as Organizações Sociais (OSs), foi enfática ao abordar a precarização da rede e o ambiente de caos em que os profissionais do SAMU-DF são obrigados a trabalhar.

“Eles estão vivendo a precarização da própria rede, você tem uma pessoa em situação de Urgência. Eles encaminham para o hospital de Santa Maria, encaminham para o Gama, do Gama, encaminham para Ceilândia, chega em Ceilândia, estou te falando de um caso concreto e real, você vai para o Paranoá, no Paranoá eles dizem, não, vai lá para Sobradinho. É uma via crucies que os trabalhadores do Samu enfrentam e a pessoa [paciente] também, o que é um absurdo. Ninguém aceita a pessoa que está chegando e faz com que? O Samu tem que ficar de hospital a hospital para que alguém receba aquela pessoa que passa por um sofrimento desnecessário e as vezes chega a óbito.”, disse.

Falta de gestão

Outro caso configura a total falta de gestão por parte da SES-DF em relação ao SAMU-DF. A suspensão de repasses por parte do Ministério da Saúde, divulgado por Política Distrital (Mai/15). A SES-DF deixou de receber, desde aquela época cerca de R$ 12 milhões, de acordo com o MS, entre outros motivos, por falta de apresentação de documentações ao Ministério.

Em apuração de Política Distrital, junto ao MS, por meio da Assessoria de Comunicação (ASCOM), o ministério detalhou as pendências da SES-DF que resultaram na suspensão de repasses de custeios relativos ao SAMU-DF.

“Ministério da Saúde esclarece que o Distrito Federal não foi contemplado com novas ambulâncias do SAMU 192 porque descumpriu requisitos para renovação, previstos na portaria nº 1.010/GM/MS, de 21 de maio de 2012, que normatiza e regulamenta o serviço: não enviou relatório com os indicadores a cada seis meses; não definiu escala de serviço dos profissionais da Central de Regulação e das ambulâncias; não registrou qualquer tipo de produção (atendimento) por mais de três meses consecutivos e o quantitativo de atendimento informado para cada ambulância foi inferior à meta estabelecida. Em função dessas pendências, a capital federal ficou impedida de receber novos veículos para renovar a frota e desde março de 2016 a transferência de recursos mensais, na ordem de R$ 817,2 mil, está suspensa. Atualmente o Distrito Federal possui 37 ambulâncias em funcionamento, contando com custeio federal anual de R$ 11,6 milhões.”.

Ambulâncias

Embora a SES-DF compute 37 ambulâncias na carga patrimonial, 29 tipo B (Suporte Básico) e oito, Tipo D (Suporte Avançado), a fonte de Política Distrital aponta que 10 delas “estão paradas”. Dessa forma a SES-DF, opera com déficit de viaturas preconizadas pelo MS que estabelece na Portaria nº 2.048, de 3 de setembro de 2009, que aprovou a regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS) § 3º do artigo 131.

“As ambulâncias serão adquiridas na proporção de um veículo de suporte básico à vida para cada grupo de 100.000 (cem mil) a 150.000 (cento e cinquenta mil) habitantes, e de um veículo de suporte avançado à vida para cada 400.000 (quatrocentos mil) a 450.000 (quatrocentos e cinquenta mil) por habitantes.”.

Horas Extras

Outro entrave que pode demandar sérias consequências na gestão da Saúde do DF, são os constantes atrasos do pagamento das Horas Extras. Na última semana a SES-DF anunciou o pagamento das HEs de agosto.

Mas antes de receberem tal recursos os profissionais da Saúde se mobilizaram e se mostram irredutíveis em retroceder em relação as HEs. Condutores, médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem que atuam no SAMU-DF prometeram apenas retornar a cumprir horas adicionais de trabalho, caso recebam também, “no mínimo”, o atraso de setembro.

Vale observar que além de uma campanha acentuada entre os profissionais do SAMU-DF que devolveram mais de 1.200 HEs, outras categorias da rede, a exemplo das triagens nas unidades de emergências de hospitais e UPAs, também começam a fazer campanha de devolução, em massa, das horas extras.

Revoltados com o descaso e a condição de trabalho dos samuzeiros, o recado foi aos gestores da SES-DF foi, ‘curto e grosso’, “Esse final de semana continua também com os condutores sem fazer horas extras e menos da metade da frota normal do Samu rodando. (SIC)”, disse a fonte de Política Distrital.

Outra parte

Sobre as Pás de DEA, a SES-DF ao ser questionada sobre a falta do insumo, na viatura que acompanhou a tentativa de reanimação do jovem Mafra. O blog questionou ainda, quantas e quais ambulâncias, eventualmente, estavam sem o equipamento.

Por meio da ASCOM, se limitou refutar a falta dos insumos e informou que sstá em processo de compra de novas pás de DEA.

Condolência

Enquanto o governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB) e o secretário de Estado de Saúde, Humberto Fonseca de Lucena, apresentam à população do DF mais um capítulo de ineficiência, arrogância e incapacidade de gerir a coisa pública.

Se Mafra vai virar uma vítima da fatalidade, ou figurar mais uma triste estatística das possíveis mortes evitáveis, proveniente de falta de competências, incapacidades de reconhecimento e até perseguição de bons gestores em detrimento de aventureiros, impossível saber.

Mas certamente essa será uma indagação da família de Mafra somada a tantas outras vítimas das fatalidades evitáveis. E se o socorro acontecido com a estrutura adequada?

Política Distrital apresenta os votos de condolências, em especial, à irmã do jornalista e apresentador do SOS Brasília, Ricardo Noronha, tio do jovem motociclista.

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