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19 abr 2024 04:38


Falta de planejamento e descaso transformam hospitais do DF em matadouros

Além de mortes, mutilações também fazem parte do cardápio das unidades de saúde

Por Kleber Karpov

Uma matéria de Metrópoles publicada na sexta-feira (11) chamou atenção pela gravidade da situação em que o Executivo, sob comando do governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB) e o secretário de Estado de Saúde do DF (Humberto Fonseca) têm submetido à população do DF. O título “Idoso com dedo necrosado espera por exame e família teme amputação”, por si só revela a exata dimensão das condições que a população do DF está exposta.

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

No início do mês, outro caso chamou atenção do DF. O agricultor Adenor  José Viana, 86 anos, transferido para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC), após dar entrada no Hospital Regional de Brazlândia (HRBz) com uma fratura no fêmur veio a óbito (4/Out).

Isso não antes de a filha, Arlete Lopes Christiano, denunciar ter encontrado larvas de mosquito, no nariz e na boca do pai. Por falta de tratamento adequado Viana acabou com o estado de saúde agravado. Também, ao Metrópoles, Arlete Lopes, após ver a condição de atendimento no HRC, previu, durante a entrevista, o fim trágico que esperava para o progenitor. “Tinham 16 pessoas jogadas nos corredores quando entrei hoje. Os profissionais do hospital trabalham da forma mais precária possível. Meu pai entrou com o fêmur quebrado e vai sair morto desse hospital”.

UTIs

A luta por vagas nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) adultas ou pediátricas se tornaram a mais nova modalidade de loteria, onde pais e parentes de bebês, crianças, adultos e idosos, certamente trocariam todos os milhões sorteados pela Mega Sena, por uma vaga que dessem sobrevidas aos pacientes.

Nesse contexto, Política Distrital, em visita recente, com o senador Hélio José (PMDB-DF), à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Sobradinho, tomou conhecimento de casos que atestam o dilema dos profissionais de Saúde. Por mais que tentem desdobrar para dar vazão à capacidade de atendimento à população, com a escassez, deliberada ou não, por parte do Estado, de dar condições de trabalhos adequadas, criam mais vítimas.

Uma delas ocorre em relação aos leitos de UTI. A UPA que deveria, após receber, oferecer o pronto atendimento e encaminhar os pacientes em estado grave para o hospital tem que manter internado, há mais de 30 dias, naquela unidade.

UPA Sobradinho

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UPA Sobradinho, Foto: Reprodução da Internet

O outro que os profissionais acabaram por assistir um homem de 37 anos morrer na unidade, após chegar “quietinho”, na UPA Sobradinho. A falta de um profissional para fazer classificação de risco do paciente, que ficou por horas na unidade, sem avaliação adequada, por não aparentar gravidade, acabou tirando a vida do cidadão, que havia sofrido um infarto.

O senador ao apurar o caso foi informado que a falta da classificação de riscos ocorreu porque, com o fim dos contratos temporários, a SES-DF, nomeou técnicos em enfermagem e enfermeiros para a unidade, porém, os profissionais encaminhados para a UPA Sobradinho, não tinham curso de qualificação do Sistema Manchester de Classificação de Risco.

Hélio José, criticou a falta de planejamento da SES-DF ao colocar profissionais na UPA Sobradinho, com uma média de 6 mil atendimentos por mês sem disponibilizar profissional qualificado para realizar a classificação de riscos dos pacientes que chegam na unidade.

“O custo do curso que habilita um profissional de saúde na classificação de riscos Manchester é de aproximadamente R$ 500. É um absurdo que a Secretaria de Saúde nomeie novos servidores, coloque esses profissionais nas Unidades de Saúde, mas não se certifica ou não ofereça qualificação adequada para esse profissional. Sem um classificador de riscos, como o que vimos aqui na UPA Sobradinho, que já chegou a atender 10 mil pacientes em um único mês, temos sorte de ouvirmos falar em apenas uma morte por falta de profissional qualificado, mas infelizmente para a família desse rapaz, a perda é inestimável. Uma morte que provavelmente seria totalmente evitável.”.

Cirurgias Ortopédicas, incapacidade ou…

Na semana anterior o GDF anunciou o envio de 90 pacientes para realização de cirurgias ortopédicas no estado de Goiás, para ser atendido pelo SUS naquele estado com ônus para o DF.

Com o episódio o DF atesta a incapacidade de realização de procedimentos cirúrgicos no DF. Isso em decorrência de uma série de eventos. Vale lembrar que a demanda de cirurgias eletivas em abril de 2015 era de 4700 eletivas e, 250 de urgência e emergência. Atrelado a isso está o escândalo do suposto estoque de 50 anos de equipamentos de Órtese e Próteses e Materiais Especiais (OPME).

O estoque desordenado está diretamente relacionado a ação do ex-subsecretário da Subsecretaria de Administração Geral (SUAG), José Meneses Neto, que mesmo   condenado por irregularidade em contas públicas por parte do Tribunal de Contas por participar da ‘Máfia dos Sanguessugas foi nomeado na SES-DF, na gestão de Rollemberg, com intenção de assumir o Fundo de Saúde do DF.

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OPMEs armazenadas na Secretaria de Saúde do DF – Foto: Ascom Chico Vigilante

Antes de Meneses deixar a SES-DF, fugido da polícia, o ex-SUAG exigiu que a empresa VETON, ganhadora de licitação da compra das OPMEs, entregasse todos os materiais comprados em uma única remessa, quando em geral as entregas, são realizadas ao longo de um determinado período, em geral um ano.

Na ocasião o secretário João Batista, emitiu Nota de Empenho de R$ 11 milhões, valor da compra e ao perceberem o suposto ‘erro’, fizeram o cancelamento e emitiram uma segunda de aproximadamente R$ 900 mil, caso que terminou por ser judicializados uma vez que a VETON havia entregado, forçadamente, as OPMEs.

Se soma ao escândalo das OPMEs, objeto de investigação da CPI da Saúde do DF, na Câmara Legislativa do DF, a falta de profissionais a exemplo de cirurgiões ortopédicos, anestesistas, técnicos em enfermagem. Para a realização de cirurgias dependem ainda de  estruturas adequadas pois faltam exames de Raio X, tomografias computadorizadas, instrumentais. Até roupas fazem parte do cardápio da incapacidade de a SES-DF oferecer tais procedimentos.

Sob esse prisma, a resolução do problema de menos de 2% dos pacientes com demandas ortopédicas para realização de procedimentos cirúrgicos em Goiás, embora louvável, também é considerado uma forma simbólica de o governo reforçar a ideia da necessidade de implantar Organizações Sociais (OSs) no DF.

Estado de Emergência, de CPI e de morte

Aos que acompanham, não deve ser difícil lembrar que a Saúde do DF, desde 19 de janeiro de 2015, se encontra sob decreto de Estado de Emergência. E o mais grave, sem a menor perspectiva de mudança de cenário, pois a isso se soma a constante falta de reagentes, equipamentos, insumos, roupas, pessoal e manutenção.

A CPI da Saúde, instrumento que pode demonstrar o ‘bicho papão’ por trás do definhamento da Saúde Pública do DF, desde o que parece mais um imbróglio bem articulado, que afastou a deputada distrital Celina Leão (PPS) do comando da CLDF, perdeu força, pois passou às mãos do governo, parte do controle de investigações imprescindíveis a abertura de mais essa ‘caixa de Pandora’, por meio da base aliada. A resistência nesse caso, fica nas mãos dos distritais, Wellington Luiz (PMDB) e Wasny de Roure (PT).

Enquanto isso, a população permanece refém de um governo que aposta todas as fichas nas OSs, algo, negado e questionado por todos e que deve resolver o problema, apenas da atenção primária e não resolverá o problema imediato da população que estão em outras portas de entradas, a exemplo das urgências e emergências.

Afinal são nas média e alta complexidade, onde as pessoas continuam a morrer, desnecessariamente. Isso, sem ônus as responsáveis por esse quase genocídio, o governador do DF, por falta de política pública para a Saúde e o secretário de Saúde, por patente ineficiência de gestão da Pasta.

Presidente do Sindicato dos Médicos, Gutemberg Fialho
Presidente do Sindicato dos Médicos, Gutemberg Fialho

Os grandes demandados e conhecedores dessas arbitrariedades, improbidades, omissões e falta de capacidade de gestão, dentro das unidades de saúde, são as entidades sindicais, mas  esses por sua vez, são marginalizados pelo governo, na tentativa de justificar que apenas se interessam ou cobram reajustes salariais e benefícios próprios.

Porta-vozes de servidores, as entidades sindicais são pautados por testemunhas oculares do massacre silencioso aos pacientes e denúncias de reações adversas dos respectivos acompanhantes.

Nesse caso, mesmo recriminados, sem entrar no mérito dos métodos adotados, à população do DF deveria parabenizar o presidente do Sindicato dos Médicos do DF (SINDMÉDICO-DF), Gutemberg Fialho, e do vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF (SINDATE-DF), da presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelcimentos de Saúde do DF (SINDSAÚDE-DF), Marli Rodrigues e ainda do Sindicato dos Técnicos, Tecnólogos e Auxiliares em Radiologia do DF (SINTTAR-DF), Ubirajara, ou Bira, como é conhecido.

Por fim na outra ponta, restam aos órgãos de controle, em especial os ministérios Público do DF e Territórios (MPDFT), e de Contas do DF (MPC-DF). Ambos fazem o que está ao alcance, para cobrar do governo, que o Estado ofereça as condições mínimas de atendimento de qualidade à população do DF.

Porém, mesmo a ação desses órgãos, parecem não intimidar o governo. Nesse sentido, Política Distrital tem denúncia, por exemplo, do descumprimento, por parte da direção do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), que resolveu colocar a caldeira da unidade para funcionar, mesmo sob interdição do MPDFT.

O resultado disso começa a aparecer nas ruas. A insurgência do povo que, cansado de ver pessoas morrerem, desnecessariamente, todos os dias, começam a se levantar contra o governo. Bons exemplos disso, são o movimento, O DF É NOSSO, por meio de intervenções com faixas em que criticam o ostracismo do governo. Da população do Gama e de Santa Maria que se mobilizam com os respectivos Conselhos Regionais de Saúde, em que pedem a reativação de leitos de UTIs, tomógrafos, pediatrias, Atendimento Infantil, nos respectivos hospitais regionais.

Nesse contexto, um grande ato deve acontecer, dia 10 de dezembro às 9 horas, no centro da Ceilândia, Região Administrativa do DF e entre a pauta de questionamentos e reivindicações de pautas relevantes à cidade. O ato é uma iniciativa do grupo CEILÂNDIA SEMPRE VIVA e a Saúde deve ser um dos temas principais.

convite-ceilandia

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